O pêndulo da vida

"Ao vivo tudo falta, e ao morto tudo sobra." É uma frase atribuída a um autor desconhecido que promove a reflexão sobre a maneira como a pessoa pode perceber a existência como o desencontro entre a satisfação e o desejo consumado ao longo da vida. Análogo a este contexto, o filósofo alemão Schopenhauer descreve a vida como um pêndulo que oscila entre o desejo inatingível, causando sofrimento, e o tédio, gerando o vazio existencial. Portanto, a felicidade é um delírio na prática, servindo apenas como conceito abstrato projetado pela consciência que produz o contraditório propósito de satisfação plena inexistente na realidade. Esse ermo da vida expande-se com a sociedade consumista pós-moderna, vivendo sob a tendência do marketing que vende a ideia do objeto como símbolo personalizado desejável, proporcionando prazer momentâneo ao consumi-lo, mas logo em seguida o tédio, pois já tem a variação do mesmo objeto no mercado com novos símbolos e novos significados. Em suma, o ter no lugar do ser aproxima ainda mais o sujeito ao conceito do pêndulo da vida de Schopenhauer. Essa ânsia e liquidez existencial pós-moderna esvazia cada vez mais o indivíduo insatisfeito, distanciando-o do ócio criativo e do equilíbrio emocional, desarticulando processos que poderiam criar caminhos subjetivos de felicidade como antítese a ideia de niilismo. Sendo assim, a infelicidade e a angústia de viver no pêndulo é real para aqueles que encontram fundamento filosófico, como Shopenhauer. Em paralelo, o consumismo drena energia existencial do entorpecido consumidor em queda no abismo da doce ilusão de satisfação momentânea permeado de ansiedade e vazio diante de um universo indiferente a sua presença terrena. Por outro lado, poetas, divergentes, sonhadores, artistas...enfim, transvalorados do pêndulo da vida de Shopenhauer vivem no caminho do meio, evitam a oscilação, enxergam sentido e propósito na existência. São três percepções de uma mesma realidade, privilégio de quem existe com consciência e sente, a partir das suas próprias experiências, o sabor amargo ou doce do mundo sem manuais de instruções. Nessa concretude o julgamento de valores, o certo e o errado, a moral como cultura construída no indivíduo pela convivência social torna-se ineficiente como referência superior de avaliação, pois em qualquer percepção citada no texto o sujeito mostra-se como ser de encontros e desencontros que se desenrola no arcabouço das dimensões do tempo e do espaço. Portanto, a nervura do real sofre neurogênese, criando novas conexões com a realidade viável e metástase quando há uma hiperdimensionalidade da existência em si, migrando desarmonias e assimetrias onde só havia possibilidades positivas funcionais nas engrenagens da vida. É uma pulsão entrópica, uma alternativa intrínseca do sistema, uma variável na equação, um desconforto que pode gerar mudanças para além do óbvio ou estagnação em um determinismo que oscila ao acaso em ciclos contínuos. Todos esses efeitos culminam no efêmero mundo de muitas indagações e nenhuma resposta absoluta sobre a realidade real e o sentido da vida, deixando em aberto as cosmovisões relacionadas ao desamparo, a esperança, a alienação, ao profundo e raso. Contradições de uma espécie em evolução, cujo o trâmite final é desconhecido, assim como a origem da consciência que pensa sobre os próprios pensamentos. Portanto estamos aprendendo, e a diversidade de ideias pendulares, e suas divergências, contribuem para uma visão multifacetada do ser enquanto ser no plano vital.

 

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