Necrópole: a confissão de um morto

Não acredito que morri.
Achava-me importante.
Hoje, sou húmus.
Vivia como eterno.
Agora, estou em putrefação.
Resta-me apenas pouco tempo de reflexão.
A minha mente esfacela-se a cada segundo.
O silêncio profundo é a minha companhia.
O meu fim é o confinamento em uma grande caixa.
Em necrópole, o corpo encontra seu destino real.
Planos que viraram pó.
Estava rodeado de tanta gente.
Bactérias e larvas estão fechando as cortinas do palco de meu monólogo introspectivo.
Em um piscar de olhos, migrei da vida para a morte.
A minha finitude fica de exemplo para aqueles com pensamentos acelerados.
Ansiedade que cessa no crepúsculo existencial.
Lamento ter esquecido de amar.
O meu retorno sempre será de 360°.
O fim tornou-se meu início.
Sinto a minha mente falhar.
Neurônios estão sendo desligados.
Essas bactérias e larvas são implacáveis!
O que será que está escrito em minha lápide?
Eis aqui um sonhador?
Conhece-te a ti mesmo?
Nada? É o mais provável!
Multidões vivem suas vidas.
Quem pensa em Necrópole?
Apenas os mortos?
Fui a penas uma mera estatística populacional.
Vivi a vida que valeu a pena ser vivida?
Quem sabe se a minha confissão ecoará nos pensamentos de algum mero mortal?
Não por mediunidade, mas por empatia.
Em minha última fagulha mental, clamo:
saboreie os fracassos e sucessos.
Só viva o amor se for corajoso.
Surpreenda-se!
Não culpe a rotina, assuma a responsabilidade.
Que se faça do clamor uma profilaxia vital.
Alguém na escuta?
Vida...Sentido...Ser...
Via...Ser...
Vi!
...

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