Senso comum ou senso crítico?

Pierre Bordieu, pensador contemporâneo francês, em algumas ocasiões, foi criticado sobre a complexidade de seus escritos. Em sua defesa, Bordieu demonstrou que o seu pensamento está pautado em fatos fora do senso comum. Além disso, pensar fora da caixa é extrair reflexões que ultrapassa o óbvio. É pensar sobre o que parece pronto e acabado, ou até mesmo pensar sobre o que parece o nada sobre o vazio. Nesse sentido, o senso crítico ainda é para poucos.
Mitos e lendas propagados sem a filtragem do intellectus, viralizam-se na sociedade como verdade conveniente incorporado como senso comum do inquestionável, do óbvio, diluindo no meio social sem que haja complexidade reflexiva. É muito alienante! 
A esperança, em muitos situações, é um desses casos de senso comum. Uma boa parcela da população acredita em um futuro melhor. A espera vem com muita expectativa. Isso é notório, principalmente, no fim de ano nas músicas da Rede Globo e nos depoimentos de pessoas que desejam tudo de bom no novo ano. Durante vários verões se ouve a mesma coisa. Eu pergunto: "Há alguma novidade no reino da Dinamarca?" Pelo contrário, o cheiro de podre ainda continua no reino (alusão e adaptação de uma parte de Hamlet shakespeariano para o texto). Mesmo com a resposta óbvia de não ter resplendor na esperança que depositou-se no ano vindouro, continuamos a reproduzir os velhos ideais. Um ciclo vicioso de senso comum. A esperança que rompe o ultraje do senso comum é aquela que surpreende pela ação de transformar o abstrato reflexivo em ocupação de espaço em que mitos e lendas dissipam-se nessa realidade alternativa, sabendo que certos locus requer algo além, pois existem dominações ideológicas que precisam ser rompidas (ver o texto nesse blog chamado: "Vai que cola!?"). Em resumo, a esperança que vale não é o amanhã, é o agora. É ir contrário ao senso comum. É passo a passo! (para entender melhor, veja o poema/texto nesse blog chamado: "O voo da bola de chumbo"). Enfim, romper a reprodução automática social exige subir no ombro de gigantes (adaptação da frase de Isaac Newton: "Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes"). Para isso, é preciso desafiar a mente com o (des)conhecido e o (in)compreendido, sem que ponha vinhos novos em odres velhos (adaptação de uma parte da parábola de Jesus Cristo: "Nem se põe vinho novo em odres velhos; de outro modo arrebentam os odres, e derrama-se o vinho, e estragam-se os odres. Mas vinho novo é posto em odres novos, e ambos se conservam.").
Veja Demócrito, pensador grego que viveu antes de Cristo, foi avante com a ideia atomista. Os milênios se passaram, modelos atômicos surgiram. Hoje, fragmentamos o átomo em várias partículas subatômicas. Desse conhecimento físico-químico, evoluímos em inovações tecnológicas com patamares nunca antes sonhado pelas civilizações antigas. Mas quando deixamos nos levar pelo senso comum da guerra, a humanidade beija a morte com sabor de catástrofe das bombas atômicas. Em confrontos, onde o senso crítico sai de cena, todos saem perdendo, tanto o comando maior quanto o soldado no front, pois os mesmos são movidos a imputações de manipulação ideológica do ódio e do poder.
Para sair do trivial, faça neuróbica!
Um outro exemplo interessante é o de Pitágoras. O homem citado, assim como Demócrito, nasceu antes de Cristo, com senso crítico apurado a tal ponto que encontrou uma solução para o triângulo retângulo usando um teorema em que o quadrado da hipotenusa é igual a soma dos quadrados dos catetos. Hoje, milênios depois de Pitágoras, encontramos pessoas com dificuldades em aplicar seu teorema. Qual seria a razão para tal condição? A resposta é o símbolo sem significado (ver o texto nesse blog chamado: 2 + 2 = 5). Pitágoras encontrou relevância em seus códigos matemáticos. E você, só decorou a matéria para a prova? Se isso for verdade, então esse conhecimento não valeu para ti. Foi apenas o senso comum, no qual: "Se eu não decorar, não irei bem na avaliação de matemática." Em vez disso, troque o discurso pelo senso crítico: "Qual o fundamento desse conhecimento para a história da humanidade?" E ainda: "Quais foram as portas que se abriram para as exatas após a simbologia de Pitágoras?" É ir além! A busca se faz necessário para sair do senso comum e entrar no senso crítico.
Experiências de senso crítico real foram alcançados por poucos que se aventuraram nas ondas oscilantes do desafio de enxergar o conhecimento acima do óbvio. Esses notáveis surpreenderam o mundo, comprovando que nem sempre a realidade é o que vemos. São marcas registradas importantes de caminhos sem placas de sinalização que leva o peregrino a encontrar novidades fora dos muros da maioria.
Questionar, de forma construtiva, a simplicidade do sim e a simplicidade do não, favorece o indivíduo descobrir caminhos pouco explorados que foge ao senso comum. O sim pode continuar sim e o não pode continuar não, desde que, haja sentido para tal coisa.
O senso crítico amplia o leque de opções para observar a realidade com outra mentalidade, porém, o senso comum é mais conveniente e adaptável ao mundo pós-moderno, mas é alienante e fora do contexto existencial. Qual caminho a seguir? A decisão é sua ou não? Influências decidirão!?



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