Condenados a liberdade
Até que ponto queremos a liberdade? É um tipo de pergunta que pode revoltar muitas pessoas, pois "todos" almejam a emancipação.
Seria fácil exaltar a liberdade, romantizar a plenitude de ser livre, porém, na prática, precisamos aprender a lidar com a liberdade e sua intensa relação de amor e ódio com o poder controlador.
Uma boa referência de que a liberdade, na prática, pode ter um viés utópico alienador é a alegoria da caverna de Platão. Lá, pessoas viviam acorrentadas vendo a realidade deturpada por sombras que se projetavam na parede da caverna. Em certa oportunidade, um homem, em alusão a Sócrates, libertou-se da caverna, encontrando a liberdade. O mesmo homem liberto voltou a caverna para alertar seus companheiros de que eles viviam em uma prisão de realidade torpe. Por incrível que pareça, os encarcerados não acreditaram no "salvador", escolheram permanecer no status quo "confortavelmente". Diante do mito da caverna de Platão, vejo que a maioria, incluindo eu, vive preso ao controle global e mental. Poucos são aqueles que desfrutam da liberdade plena, ou ninguém, quem sabe?
Passados séculos de história humana, o mito da caverna se fez valer nas sociedades. Exemplos não faltam para ilustrar essa realidade. Eis alguns:
- O povo que escolheu a Deus como o Único Salvador pediu a seu Criador um rei. O Altíssimo atendeu ao pedido de suas ovelhas, mesmo não concordando com a decisão do povo. O rei Saul veio, trazendo opressão aos seus súditos (ver o livro de I Samuel no antigo testamento).
- Em outro episódio, a Revolução Francesa seria um exemplo de luta pela liberdade. No fim o poder passou da monarquia para os intelectuais burgueses, ou seja, trocou-se seis por meia dúzia. A guilhotina que foi usada para arrancar a cabeça da monarquia foi a mesma usada para matar as pessoas que lutaram por liberdade. O paradoxo se faz real.
- Atualmente o povo catalão reivindicou a emancipação em relação a coroa real espanhola. Como todo poder autoritário faz, usou da diplomacia, não deu certo, agora, estão usando da coerção para aparar as arestas. Sabe como é: escreveu não leu, o pau comeu. Neste momento a democracia vira democratura, uma prática comum a todos os governos. Aliás, democracia é um modelo registrado na prática da dinâmica social referendado no célebre livro de Platão chamado a República, onde a estrutura da sociedade seria arquitetada em uma hierarquia autoritária, ou seja, um Rei Filósofo (o ser dotado de sabedoria necessário para administrar a pólis), o exército ( que defende o Rei Filósofo) e por último o povo. Nesta casta de poder, o Rei Filósofo usa da argumentação e discernimento para guiar a sociedade, caso haja rebeldia, o exército entra com a cartilha da opressão. Infelizmente, é um ranço que tem as suas origens de controle nos primórdios da sociedade humana.
- O mais bizarro poder controlador encontra-se na Internet. A perda de privacidade, por vontade própria, permite um controle jamais visto em nossa história. Somos expostos vinte e quatro horas por dia em redes sociais, cadastros virtuais e câmeras espalhadas em toda cidade, concretizando a "profecia" de Adous Huxley que disse: "A ditadura perfeita terá as aparências da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor a sua escravidão."
- Não podemos esquecer da abdicação a liberdade em prol do controle familiar. Existem muitos casos de filhos adultos que poderiam exercer uma vida emancipada dos pais, mas preferem que os seus progenitores decidam os seus respectivos destinos, pois é mais cômodo. Caso haja algum fracasso na vida, os filhos culpam os pais, com isso, têm-se uma infância prolongada, como se fosse uma criança no corpo de um adulto. Para aprofundar o assunto, indico o livro: A sociedade que não quer crescer.
- Em relação a mente, nos limitamos em pensamentos naturais incorporados através da cultura, religião, mitos, lendas, educação e marketing de auto ajuda, predestinando o indivíduo a reproduzir a história em um ciclo vicioso onde no final mantêm-se o mesmo de ontem, como uma maldição hereditária. Um feitiço do tempo que parece não cessar.
Geralmente, quando uma sociedade humana perde o controle, os indivíduos apelam para a raiva, a coerção, e outras formas de opressão para "reorganizar" a pólis. Dificilmente o diálogo se torna uma solução de incentivo a liberdade real, pois assumir as responsabilidades do sucesso ou fracasso é incômodo para a alma que nunca aprendeu o significado do bônus e do ônus de sair da caverna. Se o esforço de enfrentar o medo e a insegurança do desconhecido é evidente, o ódio e a raiva crescem diante da desconstrução do indivíduo.
Gostaria de acrescentar o fato de todo ser humano viver em sistemas, seja político, econômico, cultural, social, psicológico e natural. Ainda que o indivíduo derrube quase todos os sistemas, um restará, esse será o natural, se cair, cairemos juntos, ou seja, o raça de ser matando a natureza, deixará o campo existencial de símbolos e significados, ficando prostado na inexistência de oportunidades perdidas, sendo assim, lá deixará de estar vinculado a liberdade plena, pois é um novo campo de exploração, e até mesmo, subjetivamente, uma nova dimensão de novos sistemas não compreendidos proporcionados pelas mentes que alcançaram "o nada sobre o vazio."
Em resumo, não vejo escapatória. A liberdade plena é irreal. Prefiro pensar que existem liberdades parciais. Conforme você avança, diminui a alienação e aumenta a consciência prática. A cada etapa conquistada a visão fica menos míope, e as responsabilidades sobre os sucessos e fracassos transformam-se em aprendizagens pessoais de evolução, favorecendo a compreensão de certos símbolos e significados na existência do inacabado (nós).
Pensar e agir de forma romântica quanto a emancipação plena do indivíduo, impede de enxergar a realidade existencial, criando um ideal paradoxal de luta libertária plena, onde no cume do objetivo conquistado fica-se mais preso a ideologia do que no início do processo de conquistas de liberdades parciais.
De liberdade em liberdade conquistamos novas formas de pensar e agir, não na totalidade do nirvana racional e comportamental, pois isso é utopia inexistencial.
Conquistas de liberdades parciais representam um ofício mais palpável para surpreender a si, o mundo e o universo. Boa jornada!
Em resumo, não vejo escapatória. A liberdade plena é irreal. Prefiro pensar que existem liberdades parciais. Conforme você avança, diminui a alienação e aumenta a consciência prática. A cada etapa conquistada a visão fica menos míope, e as responsabilidades sobre os sucessos e fracassos transformam-se em aprendizagens pessoais de evolução, favorecendo a compreensão de certos símbolos e significados na existência do inacabado (nós).
Pensar e agir de forma romântica quanto a emancipação plena do indivíduo, impede de enxergar a realidade existencial, criando um ideal paradoxal de luta libertária plena, onde no cume do objetivo conquistado fica-se mais preso a ideologia do que no início do processo de conquistas de liberdades parciais.
De liberdade em liberdade conquistamos novas formas de pensar e agir, não na totalidade do nirvana racional e comportamental, pois isso é utopia inexistencial.
Conquistas de liberdades parciais representam um ofício mais palpável para surpreender a si, o mundo e o universo. Boa jornada!


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