Perseguindo códigos

Dan Brown é um escritor de reconhecimento internacional. O autor escreve seus livros baseados em códigos. Assim foi em Fortaleza Digital, Inferno e O Código Da Vinci. Observa-se nos livros excelentes tramas em que algoritmos, eventos históricos, DNA compatível com ascendência improvável, e outros meios de códigos, desdobram-se em significados de relevância suprema para o futuro da humanidade. A mescla de ficção com realidade mostra o seu valor em cada página de decodificação do enredo de cada livro escrito por Dan Brown.
Trazendo a intuição e a imaginação do escritor acima mencionado ao mundo dos meros mortais, estabelecemos links com os códigos que não ficam apenas nos livros, eles estão decodificados nos conhecimentos científico, artístico, cultural, religioso e social.
Produzimos códigos em moedas correntes, em estatísticas populacionais, em obras de arte, em sistemas numéricos, na interpretação da natureza e do Universo, enfim, buscamos códigos para fins de decodificações significativas de símbolos de aprendizagens. Essa busca é contínua em uma ilha limitada de conhecimento em meio ao mar da ignorância que está ao nosso redor.
Em a ilha do conhecimento, escrito pelo físico  Marcelo Gleiser, o cientista enfatiza que o nosso conhecimento de realidade é equivalente ao que foi mencionado acima, ou seja, cada vez que conseguimos identificar  códigos e os decodificamos em um novo conhecimento, a nossa margem da ilha cresce, avançando no mar da ignorância, mas ao mesmo tempo, surgem novos questionamentos diante da novidade. As interrogações estimulam a busca de novos códigos, acarretando a construção de novos significados e aprendizagens. E assim vamos caminhando no conhecimento da coisas e, lógico, ganhando sentido de existência, ou não, já que alguns pensadores chegaram a conclusão que o acaso é a chave que abre a porta do existencialismo.
Algo de bom acontece no processo de decodificação existencial: angústia construtiva de tornar os símbolos codificados em expressões da razão e da alma, ainda que estes não apresentem, aparentemente, significado algum. É o simples prazer de impulsionar o ser humano a um grau intelectual de conhecer o mundo e a si mesmo. Essa construção racional, e ao mesmo tempo instintiva, do saber, tem suas raízes na observação questionável da realidade em si. É uma busca que não tem fim. 
Exteriorizamos e interiorizamos códigos e suas decodificações como pontes de comunicação com o desconhecido. 
Abstraímos significados de realidades a partir de símbolos, e nelas criamos meios de interpretações daquilo que nos cerca. Por exemplo: usamos os símbolos algébricos e geométricos para mensurar e definir a forma do Universo. A partir desses dados, compreendemos a estrutura e a evolução do Cosmos. Imagine se não houvesse os códigos matemáticos e suas decodificações, não seria possível visualizar o espaço como ele é. Idealizar o Universo sem as ferramentas de conhecimentos simbólicos, limitaria o tempo, o espaço, a energia e a matéria em meras especulações de incertezas infinitas do que realmente são.
Um outro exemplo encontra-se na própria comunicação. A escrita é uma das maiores invenções humana. A partir da origem da imprensa, a escrita se difundiu com uma velocidade colossal nas sociedades.
As simbologias ortográfica e gramatical em códigos específicos expressados no alfabeto permitem facilidades eficientes na comunicação.
Em dos filmes de Stargate, não lembro específico qual, um grupo entra em um portal e viaja para um mundo paralelo. O grupo de viajantes encontra uma sociedade da qual seus membros eram desprovidos de escrita. Consequências: tinham dificuldades de entendimento e eram submissos a uma espécie de rei que proibiu o povo de conhecer a escrita (um prato cheio para Paulo Freire alfabetizar os oprimidos a partir da realidade vigente). Criou-se um mito de que a escrita era proibida por ser uma maldição. O povo não conseguia perceber que o rei proibia a escrita para dominar as pessoas. Fazendo uma comparação do filme com o escritor Étienne de la Boétie, em sua obra o discurso da servidão voluntária, o autor do livro descreve uma situação em que certas civilizações antigas apresentavam seus respectivos reis que quase não apareciam ao povo, e quando apareciam usavam vestimentas exóticas e rostos cobertos para alimentar a mística do rei com poderes sobrenaturais propagada pelo próprio povo, facilitando a alienação e escravidão dos mesmos.
Ao longo da história humana procuramos transferir o desconhecido codificado em conhecido decodificado. Cada etapa aprendida significa visualização de novos horizontes prováveis. De séculos em séculos pensadores foram além dos horizontes prováveis, acelerando o processo de aprendizagens. Diante disso, gerações ficaram no rastro das eras, enquanto outras surgem para buscar novos códigos de simbologias não exploradas, com a finalidade de complementar teses consolidadas, derrubar verdades absolutas, ou construir novidades. E assim a roda da vida gira em um circuito que pode ter fim. Mesmo se o ciclo for "ad aeternum", muitos códigos estarão a deriva no mar da ignorância. 
A nossa busca é inerente ao que somos, ou seja, humanos, nada além disso, e como tais, estaremos sempre a perseguir códigos, tendo sentido ou não. Boa jornada!
  




Comentários

Postagens mais visitadas