Rabiscando o caderno
Benjamin Disraeli (1804-1881): "A vida é muito curta para ser pequena."
A fragilidade é notória no instante em que estamos sujeitos ao risco de apagar o brilho da existência que elucida a raridade de viver, pois a vida é única e intransferível em essência. Isso significa que a força vitae é personalizada e impressa na história existencial. Sem essa marca, o sujeito move a matéria orgânica com percepção de um mundo atemporal, despreocupando-se de viver o hoje. Assim, a mente funciona como máquina cronológica de momentos já vividos ou em um futuro que ainda não foi escrito. É um ciclo que ganha amplificação no mundo líquido. Nessa diluição da vida nas turbulências da ansiedade do século presente, geramos vazios dentro de abismos.
Estamos como passageiros em um mundo instável!
Cada vez que o ponteiro do relógio anda, nossa existência encurta na história natural!
Ficamos na relatividade do espaço-tempo! Para quê? Apenas vendo a vida passar como um risco de luz no céu? Será que somos apenas a ideologia hobbesiana de todos contra todos? Se estamos no patamar de raros, complexos e inteligentes, quais são os cenários de legados? São questionamentos que devem mexer com o nosso brio.
Qual o sentido da vida? Independente da resposta, tendo sentido ou não, a história existencial não respeita esse simbolismo, pois a cronologia natural segue o fluxo da vida para a morte. Pensando nisso, lembrei-me de um conto budista. Um sábio recebeu três pessoas que fizeram a mesma pergunta: "Deus existe?" Para o primeiro o sábio responde que sim, para o segundo ele responde talvez e para o terceiro ele responde que não. Inquieto, o discípulo vai ao sábio e pergunta sobre as diferentes respostas para uma mesma pergunta. O iluminado responde: "Cada um encontrará o seu caminho. O primeiro na afirmação, o segundo na dúvida e o terceiro na negação." Tem espaço para todos nas facetas do propósito, ainda que seja no ceticismo, pois a dúvida e a negação podem ser a dissecação de uma fé divergente do senso comum, estimulando o surgimento de objetivos reais, desestruturando as esperanças alienantes. Assim, cada um no seu ritmo encontra montanhas e vales em uma jornada personalizada, culminando em um futuro ainda não escrito pelo tempo. Portanto, seguir é preciso, vivenciando a diversidade através da alma aberta a novas oportunidades de encontros e desencontros com a vida, pois é na aprendizagem que evoluímos nesta dinâmica cronológica da realidade. Aliás, o que é realidade? Em um mundo marcado pelos dados estatísticos, o real fica estigmatizado em números frios parciais que não refletem à vida em sua diversidade de vivências, condicionando o indivíduo apenas no âmbito do trabalho. Por conseguinte, a pessoa busca a felicidade em uma direção monofocal, onde o trabalho é a tônica master na progressão horizontal (sem perceber, muitos desperdiçam a única vida que tem nesta meta de ilusões). Portanto, a aparência funciona como falsas promessas dentro de um modelo de realidade. Deste modo, dissecar aquilo que é daquilo que não é faz toda diferença quando se fala em multidimensionar as potencialidades da vida como algo raro, complexo e, no caso da espécie humana, com inteligências refinadas pela evolução.
Não podemos esquecer a imaginação, as intuições e os sentimentos (muitas vezes são reprimidas pelo moralismo).
Tudo pode ser usado com prudência, mesmo sabendo que nem sempre o equilíbrio é a chave que abrirá a porta da verdade absoluta, pois a estrutura do que existe também é dotada de assimetria natural. Assim, unificar os fenômenos da natureza em um único campo de conhecimento é correr atrás do vento. Albert Einstein tentou convergir tudo em um campo unificado do conhecimento, mas falhou. Leonardo da Vinci idealizou a perfeição humana no Homem Vitruviano, entretanto, sabemos que do DNA até a aparência mais externa do corpo humano há assimetrias. Esses dois exemplos mostram que não podemos descartar o desequilíbrio, as assimetrias e as imperfeições como partes que se encaixam na estrutura do mundo em que vivemos. São variações que permitem a existência da diversidade, favorecendo a continuação da vida como algo belo e magnífico.
Estamos padronizando muito à vida!
O Universo pulsa pela diversidade. Enquanto isso, buscamos o unidirecionamento do sentido. Quais são os fluxos que deixei de encontrar? A vida humana é só economia e trabalho? O Homo bios projetou em si uma imagem de deus tecnológico? A padronização é mais almejada por ser controlada? Vivenciar a diversidade assusta por ter muitas variáveis de mudanças que geram o novo? Um fato incompreendido merece ser descartado? O que está por trás da cortina da realidade? Esses e outros questionamentos podem representar consciência de algo a mais do que à vida rotineira não costuma revelar. Porém, o caminho não é igual para todos. Assim, visões subjetivas ampliam os versos inseridos em contextos diversificados de vida e de percepções simbólicas. Portanto, padronizar é tirar as possibilidades do sujeito alternar caminhos que poderiam conduzir ao "destino" inesperado de opções, permitindo o surgimento de novas escolhas. Decisões que mudam diretamente à vida de quem embarca no mundo além das formalidades padronizadas.
À vida é plural!
São várias vertentes que não precisam de unificação em símbolos e sentidos, pois existem muitas exceções que impedem a formação de regras rígidas e compactadas. Isso não quer dizer que a vida é compreendida, em seu esplendor, na ausência de parâmetros. Nesse âmbito, o equilíbrio se faz necessário. Assim, classificar é apenas um modelo, mas não é uma verdade absoluta. É apenas uma forma organizada de meios e métodos para que haja comunicação e entendimento entre seres humanos e a natureza. Entretanto, devemos levar em consideração as singularidades e as especificações fora dos padrões de controle. Nesse contexto, é importante considerar o fato de que nós não conhecemos tudo. Temos uma visão limitada de realidade. Devido a essa insegurança alienante, criamos o hábito de rotular a vida humana em um pacote hermético de existência bidimensional (trabalho-produtividade). Dessa premissa surgem mais questionamentos, tais como: é possível valorizar a diversidade em outras dimensões que não fazem parte dos padrões globalizados? Será que ficaremos satisfeitos com a nossa pequena ilha do conhecimento? As dúvidas não amaldiçoam a escuridão, pelo contrário, elas promovem o encontro com o desconhecido através do caminhar nas trevas com a vela acesa, estimulando o viver além das vivências e existir além da existência. Portanto, um pequeno oásis brota em algum ponto do deserto. Contra-fluxo que aparece na mesmice do ermo escaldante.
Diante de tantos pensamentos convergentes, divergentes e contraditórios, vejo que é mais importante usar do espírito crítico sobre o viver em prol da verdade monofocal da "realidade", pois essa visão compactada limita a vida em respostas prontas, sem que haja lócus para interrogar os padrões de controle que rotulam o viver em meras rotinas desprovidas de almas angustiadas.
À vida, pela sua complexidade, não tem definição, porém, mesmo sem compreender o conceito dessa energia que pulsa em cada ser vivo, é possível admirar e celebrar a sua existência além do que emana em nossos pensamentos. É um processo gradual de comunicação aberta as surpresas, imprevistos e aprendizagens descentralizadas de monopólio do saber.
A natureza é bela e misteriosa. Vários mitos foram decodificados a luz da razão ao quadrado. Mesmo com essa façanha inteligível, ainda não chegamos ao máximo do conhecimento. Estamos apenas em um pedaço do iceberg visível do saber. Assim também equivale para a vida compreendida em padrões e controle. Não dá para colocar tudo em recipientes compactados e classificar de acordo com modelos limitados.
Até aqui foram muitos questionamentos e poucas afirmações voltadas a solução alternativa definitiva da vida como algo além do que percebemos. Enfim, é uma crítica ao modo convergente unilateral de enxergar a realidade em padrões que passam a ser explicados em um campo unificado inquestionável. Nesse contexto, as dúvidas abrem portas para novos caminhos, evitando o engessamento do saber. É um estímulo para sair da zona de conforto, movendo-se a navegar em águas desconhecidas. Esse convite promove encontros e desencontros com símbolos e significados que darão novos sentidos existenciais, substituindo os velhos ídolos imutáveis pelo espírito dinâmico da mudança.
Diante de tantos pensamentos convergentes, divergentes e contraditórios, vejo que é mais importante usar do espírito crítico sobre o viver em prol da verdade monofocal da "realidade", pois essa visão compactada limita a vida em respostas prontas, sem que haja lócus para interrogar os padrões de controle que rotulam o viver em meras rotinas desprovidas de almas angustiadas.
À vida, pela sua complexidade, não tem definição, porém, mesmo sem compreender o conceito dessa energia que pulsa em cada ser vivo, é possível admirar e celebrar a sua existência além do que emana em nossos pensamentos. É um processo gradual de comunicação aberta as surpresas, imprevistos e aprendizagens descentralizadas de monopólio do saber.
A natureza é bela e misteriosa. Vários mitos foram decodificados a luz da razão ao quadrado. Mesmo com essa façanha inteligível, ainda não chegamos ao máximo do conhecimento. Estamos apenas em um pedaço do iceberg visível do saber. Assim também equivale para a vida compreendida em padrões e controle. Não dá para colocar tudo em recipientes compactados e classificar de acordo com modelos limitados.
Até aqui foram muitos questionamentos e poucas afirmações voltadas a solução alternativa definitiva da vida como algo além do que percebemos. Enfim, é uma crítica ao modo convergente unilateral de enxergar a realidade em padrões que passam a ser explicados em um campo unificado inquestionável. Nesse contexto, as dúvidas abrem portas para novos caminhos, evitando o engessamento do saber. É um estímulo para sair da zona de conforto, movendo-se a navegar em águas desconhecidas. Esse convite promove encontros e desencontros com símbolos e significados que darão novos sentidos existenciais, substituindo os velhos ídolos imutáveis pelo espírito dinâmico da mudança.
Heráclito (c. 535 - 475 a.C.): "Nenhum homem toma banho duas vezes no mesmo rio."
Diante do viver, o que fazer: rotular a vida em uma percepção moralista e monocultural ou deixar que o indivíduo percorra o seu caminho? Até que ponto a mudança pode libertar o indivíduo? Rabiscos no caderno tem o poder de mudar à vida de alguém?



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