A Terra é o meu lar

Quando nascemos, não tínhamos idioma definido, amor à pátria e outros símbolos de nacionalidade. Simplesmente choramos a dor da independência. Seja na China, Inglaterra ou Jamaica, expressamos o mesmo sentimento ao nascer. 
Mesmo antes do rompimento do cordão umbilical, demonstramos similaridade de desenvolvimento embrionário. Não tínhamos a menor pretensão de ter uma nacionalidade, somente havia a variabilidade genética agindo sem rótulos classificatórios. Entretanto, a convivência social permitiu a implantação de símbolos que incorporamos em nossos comportamentos. Assim, proclamamos uma pátria cheia de modelos (des)organizados para manter a ideologia de que pertencemos a algo superior ao homem natural, ao qual devemos vivenciar para cumprir tal missão. O problema dessa máxima é o esquecimento de que tudo isso é uma bolha imaginativa que tomou proporções de uma realidade utópica. Se houver um rompimento dessa bolha imaginativa, iríamos vislumbrar a verdadeira natureza que constitui a realidade além das fronteiras invisíveis? Infelizmente, não, pois não fomos educados a pensar em alternativas fora do contexto de caixas padronizadas que estão enraizadas no via ser. Portanto, a ideologia simbólica permeia a mente humana, incorporando-se como uma espécie de sentido espiritual que guia a cidadania existencial. Enfim, é uma simbiose entre simbolismos e identidade que retroalimentam-se com ideias de autoafirmação diante de uma visão de mundo limitado em bandeiras, hinos, patriotismo e fronteiras invisíveis.
A questão não é a nacionalidade e os símbolos em si, mas é a valorização exacerbada que desvirtua o ser humano, destituindo-o da sua origem terrena para um pedestal de centralidade que foi destruído na revolução Copernicana, no evolucionismo de Darwin e na decodificação do inconsciente pelo Freud. Assim, descobrimos que não somos o centro do Universo, que estamos inseridos na seleção natural e que existem medos e desejos primitivos reprimidos em nosso porão mental. Além disso, a quebra de mitos sinaliza que a espécie humana vive de acordo com os fenômenos naturais que regem a Terra e o Universo. Tudo isso nos aproxima mais do sujeito que procura compreender a própria natureza do que no indivíduo preso em uma bolha imaginativa que vive limitado na casca de um noz de ideologia patriótica.
Cantar hino, hastear a bandeira, juras de amor à respectiva nacionalidade, entre outros atos patrióticos, são símbolos supervalorizados nos âmbitos cultural, econômico, ideológico e social. Essas abstrações vigoram em discursos de esperança, desenvolvimento, orgulho e identificação cidadã, apresentando conexão histórica de independência, soberania, domínio, tirania, divisões, segregações, (des)organização social, entre outros aspectos da nossa linha temporal. São paradoxos que fazem parte da construção de mundo imaginário que tomou proporções de uma realidade utópica. Indo além dessa bolha patriótica, é possível encontrar a oportunidade para observar o mundo natural, pois o advento da consciência nos deu a falsa impressão que deveríamos buscar sentido existencial em ideologias fora da natureza, como se fossemos o diferencial do Universo.
Não podemos esquecer a materialidade, ou seja, os átomos, os íons e moléculas, em outras palavras, as partículas que tiveram origem e interatividade em comum no mundo natural. Portanto, é na natureza que encontramos o "caldo primordial" da diversidade de vida. Nesse complexo, contextualizo a frase de William Shakespeare representado no Hamlet: "Há mais coisas entre o céu e a Terra do que pode imaginar nossa vã filosofia."
Ao pensar nesse ser humano natural que usa da razão como ferramenta ideológica, observo que o autoconhecimento limita-se em símbolos abstratos que influenciam diretamente o comportamento voltado a ilusão da realidade. Por isso, vejo a Terra como o verdadeiro lar da humanidade, onde sentimos, pensamos e existimos.


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