Pausa para a solitude construtiva
Viver em sociedade é aprender e ensinar, e muitas vezes desconstruir. Essa teia forma uma rede complexa de símbolos e significados, gerando cenários trágicos ou formidáveis ao longo do cronos existencial humano. Nesse ritmo, interagimos coletivamente no cotidiano, onde cultura, tecnologia, trabalho, lazer, entre outros pontos da vida em sociedade, seguem ciclos de causas e consequências que influenciam diretamente no comportamento do ser humano. Portanto, a edificação humana em sociedade, apesar dos altos e baixos, é importantíssima na vida dos indivíduos que compõem uma população planetária de mais de sete bilhões de pessoas no mundo. E assim nos construímos como humanidade!
(...) Como somos raros, complexos, inteligentes e, ao mesmo tempo, sem significado aparente no Universo, buscamos sentido, propósito, consciente ou inconsciente, nesse paradoxo que se chama existência. Assim, viver em sociedade não é suficiente para o ser humano enxergar-se como parêntese da realidade. Por isso, precisamos complementar com uma outra parte, ou seja, a solitude. Não é isolamento em um ermo sem volta a essência social, mas são momentos para sentir o pulsar metabólico de células secretando hormônios no sangue, proporcionando alternâncias do pensar e das emoções. É captar as mensagens enviadas por neurônios em uma cascata bioquímica. É usar a imaginação para criar utopias. Além disso, pensar sobre os pensamentos, permitir-se sonhar, dialogar com os desejos e medos, refletir sobre a vida, ouvir o silêncio, buscar conhecimento, lidar com a autocrítica, desenvolver resiliência, não se conformar com o século presente, desapegar-se da perfeição humana....Enfim, tornar prático o legado de ser a mudança que nós queremos ver no mundo (Gandhi compreendeu bem esse significado). O processo é gradual e incompleto, já que uma vida consciente almeja ser mais do que a existência pode proporcionar. Isso não é motivo para não praticar a solitude, pois somos a única espécie com consciência do fim do ciclo vital, consequentemente, temos a tendência de valorizar a vida. Essa relação entre o inevitável e o trânsito vivencial no âmbito do choque realístico, produz reflexões sobre o que é a vida ou sobre o que acontece depois que deixamos o plano existencial material, ou seja, é uma conexão com os estímulos corporais e mentais que nos leva ao cerne da questão sobre quem nós somos. É um paradigma que pode aparecer de diversas formas, direcionando o ser humano a sondar sua vida sob influencias sociais, culturais, biológicas, psicológicas, experimentais e emocionais, desaguando os fluxos no oceano de dúvidas, limitações e percepções. Tudo isso representa o contexto ao qual estamos inseridos. Em suma, viver e morrer não são fronteiras para o ser em construção, pois sem saber o que somos em plenitude, recorremos as ferramentas de relações interpessoais e intrapessoais para irmos além do que os nossos olhos podem ver. Nessa transcendência e espiritualidade de sentidos, a solitude surge em meio a complexidade da vida e da existência. Sendo assim, o tempo que nos aproxima da vida e da morte torna-se necessário e útil no alicerce humano, permitindo a consciência eternizar-se na história linear dos homens ou no mundo metafísico. Mais antes disso, vivemos em equilíbrio com o aqui e agora. Portanto, celebramos a vida, pois o porvir já está garantido.
(...) Em uma sociedade sobrecarregada de afazeres e preocupações, emerge a necessidade de pausar por instantes a dinâmica social para que nós não venhamos a existir apenas na presença do outro ou em sistemas, mas também na busca cognoscível dos fluxos do microcosmos que forma cada ser vivente pensante. É preciso caminhar também na quietude e no descanso para que a alma que acha que sabe possa conectar-se com a solitude, pois como disse Einstein: "A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao tamanho original." Assim, o nós pode existir tanto na vivência social quanto na dissecação individual da originalidade do conhece-te a ti mesmo. São complexidades existenciais que se complementam na construção dos parênteses da realidade.



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