Visão Multifacetada

A natureza onírica sempre teve relevância na história humana. Através dos sonhos, os nossos ascendentes construíram símbolos, significados e sentido diante da existência. Nessa jornada, o diálogo com os parentes e amigos mortos culminou na concretização de rituais fúnebres, valorizando a vida através da visão de finitude. Além disso, a natureza onírica permitiu o ser humano ter visões sobre o futuro e a transcendência, criando mitos e contos sobre a origem e a evolução do Universo, da natureza e da própria humanidade. Assim, a busca pelo propósito abriu espaço nas religiões, e desta para outras atividades dinâmicas, como a agricultura (ritos e festivais).
Com o advento do racionalismo, principalmente no seu ponto de origem: "Penso, logo existo.", a natureza onírica passa a ter outro papel, ou seja, a análise clínica. Dentro desta perspectiva, a psicanálise de Freud foi fundamental na interpretação dos sonhos como uma narrativa de traumas, medos e desejos reprimidos que o indivíduo carrega em seu inconsciente. Hoje este conhecimento é contextualizado com a morfologia, a fisiologia e a genética. Portanto, a natureza onírica era visionária, catastrófica e esperançosa, mas na atual conjuntura civilizatória, passou a ser análise de comportamento. Foram mudanças inevitáveis no curso da história humana, pois a base do pensamento sobre o mundo migrou da mitologia para a filosofia, e desta para as ciências. Neste processo houve ganhos e perdas. Em relação aos aspectos positivos, destaco o uso de ferramentas metodológicas como meio de compreender como os sonhos podem explicar as relações interpessoais e intrapessoal de uma sociedade humana tão complexa. Entretanto, a racionalização trouxe uma visão unilateral da natureza onírica, colocando-a apenas no patamar clínico, sem levar em consideração a linguagem transcendente e imaginativo que aflora nos sonhos.
Imagine se artistas, cientistas e pensadores não usassem da natureza onírica como parte da construção de suas respectivas obras, onde nós estaríamos como sociedade?
Um exemplo interessante e curioso é do matemático indiano Srinivasa Ramanujan Alyangar. Sem uma formação acadêmica, ele fez contribuições tanto para a matemática quanto para a física com fórmulas e teoremas muito a frente de seu tempo. Ramanujan contará mais tarde que a deusa Namagiri lhe apareceu para explicar-lhe os cálculos mais difíceis. Um outro exemplo é de Albert Einstein. A princípio, a Relatividade era imaginativo e intuitivo, com o tempo, a teoria foi sendo comprovada com fórmulas, observações e modelo aceitável no meio científico. Não foi a toa que Einstein disse: "Eu acredito na intuição e na inspiração. A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento é limitado, enquanto a imaginação abraça o mundo inteiro, estimulando o progresso, dando à luz à evolução. Ela é, rigorosamente falando, um fator real na pesquisa científica."
Diante de dois exemplos concretos em que a natureza onírica dialoga com a ciência na produção de conhecimento, estimula a reflexão sobre a importância de uma visão multifacetada  como  caminho para compreender melhor o mundo que nos cerca.
Em Hamlet existe um espaço atemporal que nos faz refletir sobre a racionalidade e a natureza onírica, ou seja, "Há mais coisas entre o céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia." Partindo desse princípio, convergir o propósito das coisas na unificação de um significado maior, é deixar de lado as alternativas e possibilidades de iluminação, principalmente no que tange o conhece-te a ti mesmo.
A natureza onírica é uma espécie de chamado que encontra meios de expressão em visões multifacetadas na inconsciência e na consciência, construindo pontes complexas com os bastidores da realidade. É pouco compreendido. Caminho com direção, sentido e significado. Sendo assim, é um terreno íntimo do microcosmos de utilização imensurável que pode ajudar diretamente a razão especializada na decodificação da vida, da natureza e da existência consciente, complexa e rara.  
  

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