Vida e morte
A cada tic revelado, o tac é acionado para sinalizar a proximidade da brevidade. Não é o fim do mundo para a humanidade, é apenas o
ressoar da desmaterialização de alguns e o surgimento material de outros. São planos existentes diferentes, porém, presente e futuro, vida e morte, causa e consequência unem-se pelo propósito, ou seja, é o modelo de realidade dos vivos que estão no campo do observável. Em outras palavras, haveria sentido na vida sem a morte? Por que negamos este fato?
O fim dá sentido ao início. Podemos amenizar essa angústia com as ideias do prolongamento da vida, a transcendência espiritual e a "imortalidade digital" (transferência de memória para a rede, internet), mas a resposta mais profunda relacionada ao ciclo vital encontra-se no pensamento não pensado, no fora do eu, no ser estrangeiro na minha própria terra, enfim, no possível ainda não vislumbrado. É nesse mistério, contido na experiência do fora, que reside o propósito da brevidade. Ainda não atingimos esse nível. Por enquanto, negamos o fim, pois o que sabemos é gota e o que ignoramos é um oceano. Neste mar de possibilidades desconhecidas vemos a microparcialidade em forma de miragem. Portanto, desvincular a morte da vida é desvirtuar o sentido vital. Basta um passeio no cemitério para refletir sobre a vida e o seu propósito existencial. Nessa experiência subjetiva, podendo elevar o patamar para a subjetivação foucaultiana, tiramos conclusões abertas sobre a realidade do futuro que influencia o presente, ou vice-versa, rompendo a linearidade ilusória do tempo, iniciando o processo de ruptura da bolha do infinito para a jornada da brevidade. Partindo deste princípio, cabe algumas questões, tais como: o que você tem feito com a vida? É útil? Para quem? Você está aproveitando os presentes que a evolução te deu, ou seja, a inteligência e a consciência? Após as indagações, o via ser avança no terreno dos mortais, sentindo o solo com os seus respectivos símbolos e significados nas estruturas do modelo real, gerando um marco existencial na alma pensante, humanizando-se na busca pelo entendimento de uma questão maior: QUEM SOMOS NÓS? É aí que chegamos a conclusão que o fim é igual para todos. Portanto, é inválido perguntar: você sabe com quem está falando?
Sem a mentalidade do finito, os seres humanos tendem a viver nas ilusões que culminam na arrogância e na ideia de que não pertencemos as leis naturais da vida e da morte. Sendo assim, recorremos a observação e a linguagem como ferramentas de diálogo com a realidade, indicando o caminho da humildade empática em contra-fluxo da arrogância e do absurdo ideológico.
A vida e a morte também é um despertar na cultura e na arte. Rituais, pinturas, esculturas, teatro, cinema, modificação do meio...São exemplos de expressões simbólicas do começo e do fim como conectivos valorativos do ciclo vital no palco existencial.
Mas afinal, qual é o objetivo deste texto? Talvez as perguntas mais coerentes sejam: Se os modelos, os símbolos e os significados sofisticados não fossem um marco existencial na evolução da consciência humana, o que sobraria? A realidade sem os desdobramentos do propósito? Este enredo dispõe de interpretações sobre as engrenagens que movem o ser humano a protagonizar o espetáculo da consciência de sua própria existência no Uni ou no Multiverso em expansão. E é neste terreno fértil que construímos o nosso jardim social, repleto de flores e espinhos, regados de linguagem e complexidade. Assim, desenvolvemos conceitos culturais, projetando na existência possibilidades que estavam em oculto nas sombras da realidade, impactando profundamente o ponto azul no espaço sideral que chamamos de lar.



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