Navio (des)ancorado

 

A âncora é um símbolo de esperança na história da humanidade. Esse arquétipo vem antes do indivíduo se reconhecer como raça de ser, ou seja, na forma de ancestral comum hipotético nos primórdios de nossa evolução natural, onde o pequeno protótipo de consciência multicultural ancorava seu sucesso na natureza em uma possibilidade primitiva sensorial de saciar a fome, de matar a sede, de perpetuar a espécie, de encontrar abrigo, entre outras necessidades em ambientes hostis. Sendo assim, sem a perspectiva da esperança ancorada, o navio ficaria a deriva, sujeito somente a fluidez das ondas e as variáveis do tempo. Portanto, mesmo nas adversidades encontramos estratégias certas para romper os laços temporais instáveis, produzindo uma nova etapa da história natural da Terra, tornando possível a transmutação do protótipo em um ser consciente de sua própria existência. Isso não quer dizer que a esperança é o único meio de se obter êxito diante dos desafios, pois a âncora em si não dá firmeza e estabilidade ao navio. Existem relações de densidade, formato e estrutura que fazem jus o papel significativo contrário ao naufrágio da embarcação. Assim, para suprir as necessidades construtivas é necessário aliar os ingrediente corretos, tais como: estratégia, paciência, desprendimento de energia, resiliência e objetividade como essências que geram equilíbrio entre a esperança e o ser desbravador do desconhecido.
Ao longo da história evolutiva também é possível observar exemplos de esperanças que serviram de adaptações temporárias que sucumbiram a prova da seleção natural, restando apenas vestígios e rastros, deixando aprendizagens sobre a importância de reavaliar os objetivos das esperanças ancoradas, gerando a possibilidade de desancorar o navio do porto seguro e navegar em outras águas sob novas estratégias e perspectivas, reinventando e inovando quando as necessidades mudam de direção, pois dentro da equação existencial existem aleatoriedades e acasos que fogem ao nosso controle. Enfim, entender que em determinadas ocasiões o melhor é levantar a âncora e navegar até outro cais, mesmo que tudo indique ao contrário. É a sensibilidade de distinguir a aparência e o ser, evitando as ilusões da  esperança alienada que persiste no engano conservador que evita a mudança de rota, fixando e envelhecendo as estruturas de ancoragem, perdendo assim  a eficácia, levando o navio ao estado de obsoleto e ultrapassado. 
É preciso fazer a manutenção das estruturas para manter o equilíbrio da esperança com a estabilidade e os fluxos da vida e da existência.
Uma outra lição deixada pelos nossos irmãos evolutivos, que foram selecionados naturalmente, é a compreensão de que existem circunstâncias históricas, fenômenos e aleatoriedades que fazem parte do ciclo vital. Nesse caso a esperança apresenta-se como mola propulsora crítica diante das possibilidades ainda não testadas para reverter, se não for como oceano mas como pingo de chuva, o determinismo histórico e ao mesmo tempo aceitar a brevidade cronológica bioexistencial e as limitações diante de fenômenos naturais como eventos extraordinários que servem como signos e significados na busca de propósitos, transcendência ou atuação do acaso, levando-nos a esperança reflexiva em nosso convés introspectivo: "QUEM SOMOS NÓS?"
O navio nunca está pronto, mas espera um rumo. O capitão decidirá se manterá a embarcação ancorada ou se vai seguir uma nova rota. A tripulação espera o comando. A bússola da esperança guiará o navio. É hora de partir ou é melhor permanecer no porto seguro? 

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