Anjo renegado

 



Um anjo peregrino perdeu as suas asas durante o seu mover pela superfície da Terra. No entanto, o ser angelical não se lembra do momento em que suas ferramentas aladas foram deixadas. O mais interessante é que o anjo, sem perceber, aderiu aos dilemas dos mortais. Enquanto isso, o Vigia Atemporal observa sem intervir na mudança desse ser angelical em uma consciência terrena conectada a Gaia. 
Nessa odisseia homérica, o anjo se desconstrói de propósitos engessados, cedendo os seus ideais  ao ceticismo humano, trazendo em si questões dos fluxos de transformações inerentes aos "filhos da evolução casual."
Diluído em suas próprias dúvidas, a nova criatura usa do ócio construtivo como ponte para um mundo de utopias, distopias e retrotopias. 
Cada vez mais imerso na cosmovisão natural, a consciência terrena cria modelos hipotéticos da realidade, vinculados a padrões e métodos cíclicos, gerando oscilações entre os "eus" real e ideal, no intuito de construir bases existenciais do sujeito limitado ao espaço-tempo.
As experiências remodelaram o anjo peregrino. As asas foram esquecidas e compensadas pelo amor fati nietzschiano. Assim, liberdade, vida e existência ganham novos significados. Enquanto isso, o Vigia Atemporal encontra-se distante do anjo renegado.
Diante da nova essência, o anjo renegado desbrava os jardins filosóficos, os paradoxos, o ser enquanto ser, as leis universais, os pêndulos existenciais, entre outras sensações racionais e empíricas, levando-o a pensar no improvável, ou seja, na possibilidade de uma consciência transcendental. Vendo a oportunidade, o Vigia Atemporal sai da inércia e age, provocando a queda de uma folha seca nos pés do anjo renegado. Esse gesto simples proporcionou estímulos em prol de um novo relacionamento com a origem, pois nenhum ser pensante pode banhar-se duas vezes no mesmo rio, visto que na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o ser pensante. Assim, o anjo renegado, metamorfoseado em consciência terrena, encontra o seu lugar.
Tudo serviu como amadurecimento e sabedoria.
O tempo da ingenuidade foi o primeiro passo, mas o inesperado e os espantos existenciais serviram de trampolim para saltar distâncias imensuráveis rumo ao complexo mundo do desconhecido.
Conforme está escrito: "As coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o coração do homem, são os que Deus preparou para os que o amam." (1 Coríntios 2:9).

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