Determinismo e livre arbítrio
O professor João de Fernandes Teixeira escreveu um artigo interessante na revista Filosofia Ciência e Vida. Com o tema denominado: Condenados à liberdade, o docente João de Fernandes Teixeira descreve argumentos no campo científico que tentam acirrar o embate entre determinismo e livre arbítrio. O artigo começa com duas provocações filosóficas: " Será que somos autores de nossos pensamentos e ações? Ou apenas marionetes controladas pelo cérebro e com a ilusão de sermos livres? As reflexões ganham corpo com dados da neurociência. Em um trecho do artigo temos a seguinte descrição: "o neurocientista americano David Eagleman relata, no seu livro Incógnito (2011), o caso de Charles Whitman, um jovem estudante da Universidade de Texas, que, em 1966, subiu em uma torre, matou 13 pessoas, feriu outras 33 e, em seguida, suicidou-se. Quando seu cérebro foi examinado, descobriu-se que havia nele um tumor (glioblastoma) que comprimia uma área chamada amígdala, responsável pelo controle da agressividade. Eagleman argumenta que esse caso é uma clara demonstração de que muitos atos humanos, sobretudo os criminosos, estão diretamente relacionados a lesões cerebrais. Sua expectativa é de que, nas próximas décadas, será possível encontrar os marcadores biológicos da maioria das ações criminosas, o que exigirá uma inversão do sistema jurídico atual, no qual prevalece a caracterização dos tipos penais a partir das ideias de livre arbítrio e responsabilidade. A neurociência mostrará que a maioria dos atos criminosos está ligada a distúrbios cerebrais e que os critérios de imputabilidade e de punição terão de ser modificados. Será então, que a era do livre arbítrio está acabando?" De acordo com o professor João de Fernandes Teixeira, Eagleman focou em um caso limite para defender o determinismo. Se fizermos a mesma coisa com relação ao livre arbítrio é possível que nos convençamos do contrário.
Ao meu ver, concordo com o professor João de Fernandes Teixeira. O caso do relato de Eagleman ficou apenas unidirecional, ou seja, a neurociência não pode ser a única voz na decisão de algo tão importante como o embate entre determinismo e livre arbítrio. Fatores ambientais também apresentam seus valores na característica final do indivíduo. Em qual ambiente viveu o homem citado por Eagleman? Será que ele foi rejeitado por entes queridos? Qual a história de vida do rapaz? Ele teve ajuda psicológica? Não quero desvalorizar as neurociências, pois acredito que a análise cerebral é fundamental, mas acredito também que outras áreas podem contribuir neste debate.
Assim como o professor João, acredito que devemos tomar cuidado com os dados que são apresentados para que não vire uma verdade absoluta inquestionável. As ciências vivem mais de questionamentos do que afirmações inquestionáveis.
Não quero descartar as neurociências de um processo judiciário, desde que, outras áreas científicas, filosóficas e de segurança pública possam compartilhar da diversidade de argumentações com um fim de consenso mais justo. Se não, imagine, em um futuro próximo, quando o escaneamento do DNA será possível, você estará sujeito(a) a não conseguir um emprego porque descobriu uma falha em um grupo de genes responsáveis pelo coração. O patrão achará que você poderá dar prejuízo devido a um relatório de escaneamento genético determinando que você será um(a) cardíaco(a). E os fatores ambientais? Se o escaneamento for acessível a todos, desde a fase uterina, ficará mais fácil traçar medidas preventivas para evitar problemas cardíacos, em outras palavras, uma pessoa pode ter defeitos genéticos para manifestação de doenças, mas isso não quer dizer que o indivíduo será doente. O fator ambiental também atua como parte importante no processo. Como outro exemplo posso citar uma situação em que uma pessoa nasce com um código genético sem igual para uma inteligência superior, mas a mesma pessoa é privada de nutrientes necessários para o desenvolvimento cerebral e, consequentemente, intelectual. Será que esta pessoa manifestará uma inteligência tão fantástica assim? Dificilmente. Sem citar as influências interpessoal e intrapessoal.
Diante disso tudo, sei que existem exceções a regras, ou seja, casos visíveis e determinantes, mas vejo também uma quantidade diversificada que promove outras alternativas. Cabe sempre o diálogo entre as várias áreas de conhecimentos para um julgamento mais justo possível.
Para encerrar, responderei as duas perguntas do início do texto da seguinte forma: "Não acredito que eu seja uma marionete de meu cérebro. As vezes eu discuto com a minha massa cinzenta. A contradição que existe entre eu e meu cérebro é a prova de que estou condenado à liberdade. Sendo assim, viva o livre arbítrio."
Fonte: Revista Filosofia Ciência & Vida. Ano VII n° 87 outubro 2013. Condenados à liberdade por João Teixeira (páginas 52-53).
Ao meu ver, concordo com o professor João de Fernandes Teixeira. O caso do relato de Eagleman ficou apenas unidirecional, ou seja, a neurociência não pode ser a única voz na decisão de algo tão importante como o embate entre determinismo e livre arbítrio. Fatores ambientais também apresentam seus valores na característica final do indivíduo. Em qual ambiente viveu o homem citado por Eagleman? Será que ele foi rejeitado por entes queridos? Qual a história de vida do rapaz? Ele teve ajuda psicológica? Não quero desvalorizar as neurociências, pois acredito que a análise cerebral é fundamental, mas acredito também que outras áreas podem contribuir neste debate.
Assim como o professor João, acredito que devemos tomar cuidado com os dados que são apresentados para que não vire uma verdade absoluta inquestionável. As ciências vivem mais de questionamentos do que afirmações inquestionáveis.
Não quero descartar as neurociências de um processo judiciário, desde que, outras áreas científicas, filosóficas e de segurança pública possam compartilhar da diversidade de argumentações com um fim de consenso mais justo. Se não, imagine, em um futuro próximo, quando o escaneamento do DNA será possível, você estará sujeito(a) a não conseguir um emprego porque descobriu uma falha em um grupo de genes responsáveis pelo coração. O patrão achará que você poderá dar prejuízo devido a um relatório de escaneamento genético determinando que você será um(a) cardíaco(a). E os fatores ambientais? Se o escaneamento for acessível a todos, desde a fase uterina, ficará mais fácil traçar medidas preventivas para evitar problemas cardíacos, em outras palavras, uma pessoa pode ter defeitos genéticos para manifestação de doenças, mas isso não quer dizer que o indivíduo será doente. O fator ambiental também atua como parte importante no processo. Como outro exemplo posso citar uma situação em que uma pessoa nasce com um código genético sem igual para uma inteligência superior, mas a mesma pessoa é privada de nutrientes necessários para o desenvolvimento cerebral e, consequentemente, intelectual. Será que esta pessoa manifestará uma inteligência tão fantástica assim? Dificilmente. Sem citar as influências interpessoal e intrapessoal.
Diante disso tudo, sei que existem exceções a regras, ou seja, casos visíveis e determinantes, mas vejo também uma quantidade diversificada que promove outras alternativas. Cabe sempre o diálogo entre as várias áreas de conhecimentos para um julgamento mais justo possível.
Para encerrar, responderei as duas perguntas do início do texto da seguinte forma: "Não acredito que eu seja uma marionete de meu cérebro. As vezes eu discuto com a minha massa cinzenta. A contradição que existe entre eu e meu cérebro é a prova de que estou condenado à liberdade. Sendo assim, viva o livre arbítrio."
Fonte: Revista Filosofia Ciência & Vida. Ano VII n° 87 outubro 2013. Condenados à liberdade por João Teixeira (páginas 52-53).


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