Máquina do tempo





Teoricamente, é possível viajar no tempo. Segundo a Relatividade de Einstein, se pudéssemos transitar na velocidade da luz, ou próxima a esse movimento, e depois voltarmos ao nosso tempo natural, encontraríamos as pessoas que ficaram na Terra, durante a nossa viagem, mais velhas do que nós. Uma Teoria de Einstein que mostra que é possível saltar no cronos. Nessa viagem só tem bilhete de ida para o futuro, porque para viajar rumo ao passado seria preciso ultrapassar a velocidade da luz. E uma das conclusões da Teoria da Relatividade é a de que nada pode viajar mais rápido que a luz. Na verdade, nada pode viajar sequer à mesma velocidade que a luz – exceto a própria luz, é claro (tudo pode mudar, desde que o conhecimento avance sobre o assunto, principalmente com novas descobertas na física de partículas).
Infelizmente, viajar no tempo pela relatividade de Einstein é uma condição limitante para quem almeja flutuar entre passado, presente e futuro como um pacote interligado de eventos em que cada alteração cria espaços para realidades de possibilidades múltiplas.
Vislumbrar apenas o futuro sem critério de projeção do presente pode levar o viajante do tempo a frustração, proporcionando o mesmo a tirar conclusões precipitadas sobre um processo histórico do qual o observador futurista não participou. Porém, outro sentimento pode despertar no viajante do tempo, ou seja, o deslumbramento pelo novo, que nem sempre representa inovação. Tanto na primeira quanto na segunda condição, revelam-se visões contraditórias e míopes da realidade como forma imparcial de sentidos e significados.
A ideia de construir uma máquina do tempo ainda é uma utopia, mas quando o abstrato se tornar concreto, ainda teremos dilemas a resolver, tais como: tecnologia avançada que aguente a jornada pelo cronos, a submissão da matéria diante da viagem temporal (como ficarão os arranjos atômico e molecular da matéria após a viagem?). Além disso, se não puder voltar ao passado, o viajante ficará preso no tempo ao qual não pertence? Se a ciência evoluir e encontrar um outro meio de viajar ao passado, como ficaria a realidade presente? Apenas observar o passado modifica o presente? E se o viajante do tempo se corromper, ou seja, ele ceder a tentação de interagir com o passado gerando catástrofes futuros, como nós ficaríamos no presente? Já pensou em acordar e ver um exército nazista andando em sua rua? Pois é, são os paradoxos, dilemas e perigos que a viagem no tempo pode proporcionar. 
Existe um dispositivo real de viagem do tempo que usamos a todo momento para irmos ao passado, presente e futuro. O dispositivo em questão é a nossa mente. Quanto a isso, outros dilemas, paradoxos e perigos podem surgir, mas a mesma "máquina do tempo existencial" pode gerar construções, complexidades e soluções. Tudo depende do ponto de vista do leitor (ou a vista de um ponto - Leonardo Boff). 
Quando nos indagamos sobre a veracidade dos fatos, recorremos a nossa memória como uma máquina do tempo que funciona sem tecnologia ou restrições físicas que calcificam e engessam a nossa compreensão do que se pode observar. 
Na mente dissecamos o passado em pacotes de contextos que explicam muito do nosso presente, ao mesmo tempo, questionamos o presente para fins de mudanças pessoais. Ao fim do processo, projetamos o futuro como um alvo possível de realizações, sem a necessidade de complexidades físicas que aparecem como deuses do cronos. 
Veja, não quero dizer com isso que sou contra as ferramentas tecnológicas ou Teorias científicas que vão além das fronteiras do conhecimento atual, pelo contrário, sou um grande admirador dessas maravilhas, entretanto, a forma como nos debruçamos sobre esses fenômenos como único meio de epifania da realidade é que me direciona a pensar sobre outros recursos viáveis e acessíveis para compreender o desconhecido. 
Visando o leque de opções, proponho que uma delas seja a mente como "máquina do tempo existencial", pois passado, presente e futuro apresentam peças de um emaranhado de quebra cabeça que montamos aos poucos, sem o comprometimento de conhecer tudo, mas apenas decodificar símbolos, enquanto o combustível da curiosidade perpetuar. 
Às vezes florescer onde está plantado nos surpreende. Permite amadurecer ideias complexas sobre a realidade, conflitando lógica, razão, intuição, dedução e amor, resultando em atitudes inesperadas que podem ser construtivas ou apáticas, depende de como a pessoa analisa essa dádiva evolutiva do ócio. 
A mente como "máquina do tempo existencial" entra e sai rapidamente dos pacotes cronológicos com uma rapidez análoga alegórica a velocidade da luz. Isso sem contar a facilidade de percorrer as estradas cronológicas (algo que a máquina tecnológica do tempo não pode fazer). 
No livro Oscar Wilde para inquietos, há uma frase interessante: "Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe." Trabalhamos, pagamos as contas e vemos os dias passarem. Só nos resta uma pergunta: "Existimos ou vivemos?" Em muitas ocasiões existimos apenas no plano do automático. O nosso tempo é tomado por preocupações que não fazem parte do nosso presente. O passado assombra, o futuro assusta e o presente fica no limbo existencial. Essa marca é um sinal de necessidade de reorganização temporal. Uma máquina tecnológica não pode resolver esse dilema. Apenas a mente pode viajar dentro do próprio cronos individual para controlar a angústia destrutiva do presente. Se não for assim, o viajante sempre estará submetido a existir fora de seu tempo, sem referência de viver o presente. 
A análise temporal é para compreender e contextualizar fatos históricos do passado no presente e, consequentemente, projetar um futuro não escrito. Durante essa viagem muitos passageiros ficam presos, não conseguem voltar ao presente, ficando dispersos no cronos, sem muita das vezes perceber a sua ausência do aqui e agora. Buda, em sua sabedoria, deixou um legado filosófico muito interessante: "convém ser moderado em tudo, até na moderação." 
O que é o passado? Como estou "vivendo" no presente? O que me aguarda no futuro? São alguns dos questionamentos que a mente revela. Conforme registrei anteriormente, a moderação é importante nessa viagem. As respostas nem sempre estão do lado de fora. 
O ser humano quer conquistar o macrocosmos com tecnologia e conhecimento limitado, negligenciando o microcosmos do indivíduo por um feitiço do tempo físico. Em relação ao aspecto limitante, o próprio Einstein dizia: "A imaginação é mais importante que o conhecimento." A imaginação do cientista da relatividade o libertou do conhecimento limitado da Física e da Matemática em direção a um Universo dinâmico e complexo. É importante lembrar que a Matemática e a Física não foram descartadas no processo das descobertas de Einstein, mas na hora dos insights, a imaginação foi fundamental para revolucionar a ciência. Essa é uma grande vantagem que a nossa mente, como "máquina do tempo existencial", tem sobre a máquina do tempo tradicional, ou seja, transpor as barreiras da limitação. 
Mais do que uma grandeza física, o tempo é a nossa história. No seu início há energia, movimento e curiosidades que estimulam o ser humano a buscar verdades sobre si, a sociedade e o Universo. Para nos conectarmos com o tempo, precisamos de dispositivos, sejam mentais ou tecnológicos, sendo o primeiro mais útil na decodificação de sinais que vão além dos horizontes de eventos físicos. Mesmo assim, a tecnologia pode ser uma grande aliada nessa viagem. 
Que o combustível da curiosidade nos leve aos confins do Universo, seja macroscópica ou microscópica, para enxergamos além daquilo em que podemos ver. Boa jornada!

























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