Flores e espinhos na inteligência humana

A revolução cognitiva foi um marco em nossa evolução. Através desse acontecimento, construímos modelos abstratos simbólicos inseridos na realidade. Transformamos o mundo, criando conceitos que ganharam corpo, tais como: governo, democracia, liberalismo, capitalismo, feudalismo, monarquia, socialismo, anarquismo, contrato social, instituições e etc. Além disso, a revolução cognitiva foi o estopim para o surgimento de outras revoluções, como a verde e a industrial. Hoje, a tecnologia e a comunicação expandem seus horizontes. E pensar que tudo começou no momento em que os sapiens produziram e converteram o abstrato em concreto, fazendo-nos acreditar que os modelos são reais. Incrível!
Quando contextualizamos as abstrações em realidade, podemos conjecturar que os animais vivem, mas não existem, pois os nossos irmãos orgânicos não tem consciência de existência. Isso é suficiente para confiar plenamente em uma provável percepção de enxergar o mundo para definir existência? Talvez sim, talvez não, mas como somos ligados aos símbolos e significados, utilizaremos desse princípio argumentativo para aprofundar o tema vida existencial em inúmeras teses abstratas com diversos pontos de vistas. Em um exemplo mais concreto, temos a presença de entidades financeiras que são consideradas pessoas jurídicas, como se fossem indivíduos reais respondendo por seus atos. Enfim, os modelos teóricos dominam e moldam a nossa forma de pensar, agir e interagir na sociedade em que vivemos. Somos estimulados a vestir roupas compatíveis com o ambiente (existe algum sentido um advogado usar terno e gravata no verão do Rio de Janeiro?), a usar uma linguagem formal em situações oficiais (o que importa: a gramática ou a linguística?), a amar o seu país de origem (nacionalismo e patriotismo existem de fato?), a pagar tributos ao Estado (o que é Estado?), a votar (se sou obrigado a participar das eleições, onde está o meu direito democrático de não ir votar? Aliás, o que é democracia?). Portanto, para cada situação ocorrente na dinâmica social, ficamos a mercê de modelos. Isso não quer dizer que estamos fora da rota de um ideal, pois conforme mencionei anteriormente, somos movidos a encontrar sentido na realidade através de símbolos e significados. Entretanto, considerar modelos como meios fixos da realidade, causa deturpação interpretativa das bases sociais e culturais, levando a alienações e sofrimento. Entre ideal e modelos fixos, existe uma linha tênue que culmina em flores ou espinhos.
A revolução cognitiva favoreceu o fortalecimento da política, da economia e da religião ao longo dos séculos. Dinheiro, teorias administrativas e econômicas, estratégias, deuses, tecnologia, ciência, capitalismo, socialismo, democracia, entre outros braços da tríade do poder, permeiam a vida de cada cidadão do planeta Terra. Nesse processo, o conhecimento é a chave para discernir a prática de uma vida automática de curso traçado, de acordo com a tríade de poder e seus braços funcionais, ou construir modelos novos, sabendo que o risco de fazer mais do mesmo é grande. Não quero dizer com isso que não devemos tentar mudar o status quo, mas antes de qualquer aventura intelectual de transformação significativa, é necessário conhecer a história da humanidade para identificar as nossas bases cognitivas no intuito de evitar a repetição do passado. 
Será que podemos mudar modelos consolidados? Na Idade Média, as pessoas acreditavam que não era possível avançar no conhecimento para construir coisas novas. Pois bem, logo em seguida a era ,moderna chegou. Foi um período de revoluções, principalmente, na filosofia, na arte, na ciência, na economia e na religião. Se houve mudanças profundas nas sociedade passadas, por que não acreditar em algo que possa possibilitar novas revoluções futuras? Como o futuro não tem história e a nossa mente analisa modelos abstratos como potencialidades flexíveis da realidade, quem sabe o conhecimento avançado e a tecnologia de ponta possam ser as bases de novos princípios de mudanças profundas na sociedade humana. Não há receitas de bolo, apenas prognósticos de uma realidade alternativa.
Haverá uma nova revolução cognitiva que mudará a nossa forma de pensar o mundo? É um questionamento sem resposta definitiva. Porém, observando o passado, vemos flores e espinhos que brotaram das abstrações humanas. Grandes feitos, como também grandes catástrofes, mostraram que precisamos melhorar o que deu certo e abandonar o que deu errado. Podemos aprender com os nossos sucessos e fracassos. Mesmo diante das adversidades, chegamos até aqui. É um fator que devemos levar em consideração.
Temos recursos para erradicar a fome no mundo! Temos ciência para prolongar a vida com saúde! Temos diplomacia para evitar guerras! Mas será que somos capazes de nos colocar acima de nossas abstrações para que a realidade siga o seu curso evolutivo, após um longo período de revolução cognitiva? Seremos capazes de colocar a justiça acima de nossas vaidades pessoais? Se a resposta for sim, significa dizer que a revolução cognitiva continua dentro dos limites das leis naturais. Novas flores e espinhos surgirão. O que fazer com isso será o imbróglio futuro que precisamos equacionar para determinar o restante de nossa história na cronologia do tempo indeterminado.  




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