Não temos manual de instruções
É comum comprar um eletrodoméstico com manual de instruções. Ignorado por uns, levado a sério por outros, o manual contêm ensinamentos sobre o produto (constituição básica e funcionamento do objeto em questão). Pois bem, diferente de nós, o eletrodoméstico nasce pronto de fábrica, com todas as informações necessárias para utilização e futura manutenção. Resumindo: um eletrodoméstico é sólido, tem começo, meio e fim determinado, com prazo de validado definido de fábrica. E nós? Somos moldes específicos, deixando parênteses na história, com a única certeza existencial: não temos manual de instruções, sendo assim, não há receita uniforme para todos.
As experiências interpessoal, interuniversal e intrapessoal nos mostra o norte do que nós somos. Estamos em constante construção, pois nós não nascemos prontos, estamos nos fazendo.
Albert Einstein disse o seguinte: "a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original". No contexto dos escritos aqui presente, substituirei a palavra ideia por experiências, seja boa ou ruim, esse empirismo existencial funciona como encontros metamórficos, como estímulos que abrem janelas escondidas na alma consciente, permitindo enxergar o que todo mundo enxerga, mas observar o que ninguém observou.
Nem tudo funciona as mil maravilhas, pois ao longo do processo passamos por estágios de desequilíbrios, com verdades sendo desfeitos. Isso pode acarretar um certo nível de depressão, uma sensação de perda de potência de agir, que para uns é sinônimo de pesadelo em forma de pessimismo sem fim, enquanto para outros é frustação acompanhado de tédio, pois quebrar verdades absolutas é se reinventar, se encontrar em novas estradas existenciais.
A busca pelo autoconhecimento requer esforço intelectual e superação emocional. Em outras palavras, é trabalhoso! Um processo inacabado ao longo da existência terrena, mesmo assim, vale a pena saborear cada momento, amargo ou doce, pois a melhor vida a ser vivida é a sua, a minha.
Subjugar a vida vivida é limitar experiências específicas, únicas. É dizer ao outro que existe um manual de instruções, uma pedra filosofal, um elixir que entorpece a mente e o coração.
É mais cômodo permanecer no conhecido, apenas seguindo o fluxo marqueteiro da vida, do que se aventurar no desconhecido inexplorado de novas possibilidades, sem mapa definido. Como poderei encontrar o meu lugar no universo se sigo apenas a simetria popular das coisas? Sem romper o casulo, continuarei sendo lagarta. Evolução é a nossa virtude. Então, viva Darwin? Não! Seleção natural ao acaso é muito limitado para uma consciência pulsante que observa na assimetria e na imperfeição as engrenagens propositais da diversidade. Você pode discordar da minha teoria subjetiva, tudo bem! As suas experiências o levam a caminhos diferentes dos meus, já que não temos manual de instruções, significa dizer que somos diversos, podemos aprender na troca de divergências, como podemos desaprender com a imposição de manuais de instruções. Tudo é uma questão de escolha.
Penso que o texto não apresenta uma afirmação definitiva da existência humana, pelo contrário, as palavras digitadas nesse relato questiona a imposição de capital cultural como meio de viver a vida, retirando do palco da existência o principal protagonista, ou seja, você, eu. É uma reflexão sobre quem somos no plano vital. Além disso, o texto traz a proposta de saborear e valorizar as nossas experiências específicas, extinguindo, em muitas vezes, a alienação ao outro pelo nosso sucesso ou fracasso. Enfim, sem manual de instruções a nossa mente pode questionar o inquestionável, permitindo expandir a margem da ilha do conhecimento rumo ao mar do desconhecido. Aliás, será que o impossível é o possível nunca tentado? se for isso, o que o futuro nos reserva?


Comentários
Postar um comentário