Buscando significados

Desde o nascimento da consciência, buscamos significados para nós e para a realidade ao nosso redor.
Expressávamos os nossos pensamentos na arte rupestre, nos contos, no mito, até mesmo em monumentos simples como uma pedra por cima de outra pedra, enfim, sempre buscando sentido naquilo em que fazemos, pois em nossa consciência o viver não era o bastante.
Demos um salto quântico em nossa evolução.
A religião foi um achado bastante significativo para explicar os fundamentos das coisas. O sentir da metafísica estimulava a imaginação, proporcionando visualizar o abstrato no concreto, trazendo conectividade entre cérebro-mente-corpo ao Universo. O mundo não era algo sem sentido. Havia uma harmonia proposital. Nós somos a consciência cósmica que arquitetava sentido a tudo que existia.
No início éramos apenas instinto. Passamos a atribuir importância da nossa existência ao mito  e a religião. Evoluímos em sociedades complexas e diversas, lembrando que antes do mito e da religião o ser humano já era cultural (no sentido de transformação de seu ambiente), sendo assim, cultura, mito e fé mesclavam-se no significado dos mundos interno e externo. Um estopim permitiu a ocorrência de encontros de expressões até o momento em que alguém desafiou o mito com a razão. Eis que surge a filosofia. Um olhar crítico e racional que a princípio passou por um processo de transição, pois muitos filósofos buscavam o saber das coisas para compreender a mente de seus respectivos criadores.
A história avança, surgem mentes racionais que desprezavam a metafísica para dar significado do real pela concretude. A hipótese e a intuição não eram mais suficientes para fundamentar o Universo em tratados e leis que não podiam provar por meras argumentações. Precisávamos de evidências. Nesse momento nasce a ciência, a razão elevada ao quadrado, cuja ferramenta básica de ver a verdade é chamada de método científico. Tendo como aliada a tecnologia e a matemática, evoluímos em conhecimento, pois em nosso mundo passamos a enxergar e mensurar outros mundos, como o microcosmo (células, bactérias e vírus) e o macrocosmo (o Universo). Mesmo diante de tantas possibilidades de expansões de conhecimentos e seus significados, nunca deixamos de filosofar, ainda que intuitivamente sobre o complexo da vida, como também depositamos fé na ciência para decodificar o desconhecido, como também preservamos os mitos e as religiões em muitas civilizações, passando as tradições e culturas de geração em geração.
Religião, filosofia e ciências, apesar das divergências de campos de atuação, ambas apresentam um ponto em comum, ou seja, ligar-se a existência com o intuito de compreender o nosso significado diante da vida e do Universo.
Partindo do equilíbrio, pois é sempre bom fugir das paixões, não posso negar a importância da religião, da filosofia e da ciência na busca de significados. Imagine o momento em que alguém perdeu um ente querido. Precisando de apoio, um conhecido chega e diz que somos apenas um aglomerados de moléculas com massa e energia. Além disso, tudo se transforma no meio ambiente. Mas e a afetividade? Nesse exemplo a ciência resolveu a questão? Ainda que saibamos que nós somos feitos de átomos e moléculas formando a nossa matéria, isso não saciará o significado afetivo. Alguém pode questionar, usando da filosofia, dizendo:"e se nós não temos propósito algum? Em outras palavras, será que somos obra do caos e do acaso? Ainda que for verdade, não podemos descartar a religião no apoio afetivo da pessoa que perdeu o ente querido, pois a ciência e a filosofia não podem provar a existência ou a inexistência de Deus, sendo assim, é uma discussão do nada sobre o vazio (no sentido literal). Todos são úteis, desde que sejam usados em  momentos apropriados.
Evidência religiosa é oposta a evidência científica-filosófica. Isso não quer dizer  que há lado A ou lado B, é apenas um registro para que não haja confusão de ideias. Até mesmo para evitar radicalismos. Volto a repetir: todos são úteis desde que sejam usados em momentos apropriados.
Mas se o caso acima acontecesse com um ateu, cético ou agnóstico, como seria? Simples, se o respaldo religioso não funcionar, pois a religião não é a dona da verdade, os argumentos científicos e filosóficos podem ser usados como possíveis significados da finitude, mesmo que não haja propósito para a vida, enfim, as ferramentas estão construindo pontes que visam ligar a nossa consciência a lugares desconhecidos, pois é da nossa natureza questionar o inquestionável.
Desprezar qualquer ferramenta, como a religião, a filosofia e a ciência, é diminuir o leque de opções de desbravar quem nós somos diante de um Universo em constante expansão.
Nesse debate, gostaria de citar o biólogo ateu Richard Dawkins. Em seu livro intitulado de Deus, um delírio, Dawkins escreveu assim: "da próxima vez que alguém disser a você que algo é verdadeiro, peça a ele evidência daquilo, e se ele não puder dar uma resposta plausível, pense com cuidado se compensa acreditar plenamente no que ele diz". É um princípio científico e filosófico defendido por René Descartes: "o homem deve desconfiar de tudo para acreditar em alguma coisa."Concordo! Porém, acreditar na existência de um Deus não anula a inteligência e o equilíbrio mental.
Homens como Copérnico, Galileu, Pascal, Newton, Planck, Kant, e tantos outros, mostraram fé e ao mesmo tempo revolucionaram a sociedade científica e filosófica. Além disso, Dawkins confunde mais uma vez a evidência religiosa com evidência científica, lembrando que a ciência não pode provar a existência ou a inexistência de Deus. E para terminar, quanto ao ceticismo de Dawkins, não podemos apenas usar os maus exemplos para dizer que Deus é um delírio. Veja o exemplo do teólogo e pastor luterano Dietrich Bonhoeffer, que lutou contra o nazismo como membro da resistência alemã anti-nazista. Em seu livro intitulado Discipulado, Bonhoeffer escreve: "comunhão sem confissão, perdão sem arrependimento, discipulado sem cruz = graça barata". O teólogo luterano não foi apenas um pregador do evangelho de Cristo, mas em seu interior buscou seu respectivo significado na luta contra o nazismo. Não alienou-se a condição de crente de um mundo distante daqui. Não foi um delírio!
Em nossa história sempre buscamos significados, seja no automático, na reflexão ou na prática. É esse sentimento que nos move em direção a encontrar respostas ou mais questionamentos sobre quem nós somos de fato.
Na evolução humana contamos com os mitos, a religião, a filosofia e a ciência para encontrar o equilíbrio entre as ferramentas que abrem os nossos horizontes em busca de verdades. Sabendo que a jornada continua!
Espero que no fim do arco-íris não tenha um pote de ouro, mas uma pista para a tão famosa pergunta: Quem nós somos?" Que venham as ferramentas para facilitar o processo de manutenção do movimento rumo ao desconhecido do próprio significado, ou não, quem sabe?

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