Celebrando a existência
Pensar que detalhes definem a minha existência, provoca pensamentos sobre outros detalhes que afetariam a minha inexistência. Ideias opostas que se complementam, estabelecendo uma linguagem significativa, não apenas pessoal, mas também de uma linha de pensamentos que produz propósito da nossa presença no Universo.
Os detalhes da nossa existência encontram-se em todos os lugares. Imagine ficar sem água, comida e oxigênio, independente de qualquer classificação social, estaríamos fadados a inexistência. É um exemplo que nem sempre percebemos, porque temos o hábito de dar valor as coisas mais importantes na ausência. Fato observado quando confrontamos nosso semelhante por questões banais, quando governantes inventam guerras, quando vivemos como se fossemos imortais, quando buscamos apenas o sucesso, quando limitamos o nosso tempo apenas em atividades e compromissos, enfim, não paramos em um ócio construtivo com o intuito de valorizar as condições básicas que estão sustentando a nossa existência, em vez disso, damos valor as nossas vaidades. Talvez seja da nossa natureza desprezar o essencial da existência pela coisificação dos castelos de areia que criamos ao longo da nossa vida. Isso me fez lembrar de um programa de auditório em que o participante ficava em uma cabine com um fone de ouvido escutando música enquanto o apresentador perguntava: "você troca uma geladeira e uma tv de última geração por um pirulito?" O participante, sem compreender a situação, respondia: "sim". Tanta comparação em que eu poderia fazer, acabei usando uma abstração mental de analogia de coisas. Ufa! Mudanças de paradigmas são necessárias. Ainda bem que em nossa loucura existem momentos de lucidez. E assim caminha a nossa humanidade. Dos conflitos de ideias surgem manifestações sem igual em toda a história evolutiva da Terra. Somos assim, vivos, raros, complexos e inteligentes. Mudar a nossa natureza é um desafio que dará consistência a valorização existencial. As outras coisas são secundárias. Utopia? Subjetividade? Objetividade? A resposta está na mudança.
Um outro detalhe está na inexistência. Biologicamente falando, somos frutos do encontro dos materiais genéticos de nossos pais. Se o espermatozoide, ou o óvulo, não fosse o que ajudou em nossa formação, você seria você? Se você não fosse você, quem você seria? Se os materiais genéticos de nossos respectivos pais não fossem o que nos formou, nós não existiríamos. Em nosso lugar estariam outras pessoas. Dentre milhares de espermatozoides com genética personalizada, um encontrou um óvulo de material genético específico em nossos respectivos pais, gerando a minha e a sua existência. Incrível! E mais, se algum parente ao longo de nossa genealogia fosse outro, a nossa presença na Terra estaria comprometida. As combinações de parentescos e variações genéticas favoreceram diretamente a existência de cada indivíduo na população de mais de sete bilhões de pessoas espalhadas pelo mundo. Sabendo disso, o que estamos fazendo para valorizar a vida? Somos únicos! Nunca houve e nunca haverá alguém igual a cada um de nós! Somos originais! Não há cópias! Mesmo entre os gêmeos univitelinos, um não é igual ao outro, pois os comportamentos são diferentes. Ao mesmo tempo, não somos especiais na Terra. O Projeto Genoma Humano, um programa que visou mapear os genes em nosso DNA, mostrou que temos semelhanças genéticas com a biodiversidade, com uma diferença de menos de 5% em relação a diversidade de vida, pequena porcentagem que nos faz tão únicos e raros.
A mistura de complexidade e fragilidade formam uma ponte que nos conecta com a consciência de significâncias práticas de valorização da nossa existência.
Só vive ou morre quem tem consciência da vida e da morte. Somos privilegiados! Os vírus, as bactérias, os protozoários, as algas, os fungos, os vegetais e os animais não estão vivos, nem muito menos morrerão, porque não possuem consciência de existência, apenas usam do instinto e de alguma "inteligência primitiva bem limitada" para sobreviver. Portanto, herdamos a responsabilidade de compreender a vida e a morte como etapas de aprendizagem, evolução e aprofundamentos que geraram, e continua gerando, inúmeros conceitos e significados simbólicos sobre a existência de tudo que há. Em resumo, se não houvesse a consciência, não haveria existência.
Muitos devem pensar que se nós não estivéssemos na Terra, os seres vivos estariam vivendo e morrendo normalmente, como todo ciclo vital. Entendo, mas o viver e morrer só tem propósito se houver uma consciência que decodifique e dê significado do existencial. Mas se chegarmos a conclusão de que a vida não tem propósito? Mesmo assim precisou de uma mente que pensasse que o verdadeiro propósito da existência vital é não ter propósito. Até o acaso precisa de uma mente para existir.
Mitologia, Religião, Filosofia e Ciências são as ferramentas que usamos para compreender o desconhecido. Tantos séculos de conhecimentos acumulados para no fim buscar a resposta sobre a nossa existência perante a vida e o Universo. Dilema que expressamos na arte, na música, na poesia, na engenharia, na psiqué, enfim, a nossa consciência, e até a nossa inconsciência, trabalha para desvendar os enigmas de um grande quebra cabeça existencial. Infelizmente, só enxergamos as teias secundárias dessa rede que possui um centro de essência de existência. Tudo está conectado! Só nos resta mapear as estruturas desse emaranhado para definir o que é prioridade e o que é complemento. A resposta final nunca surgirá como algo sólido e padronizado, pelo contrário, a resposta se tornará satisfatória quando cada indivíduo perceber que existem certas complexidades que só aparecem de acordo com as experiências pessoais de busca, abrindo a mente para a possibilidade de que o outro também faz parte do processo, ainda que meu semelhante tenha uma outra ótica sobre a vida e a existência, tornando a convivência com o mundo mais saudável.


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