O voo da bola de chumbo

Deram asas ao pleno.
Feliz, pleno alçou voo rumo a liberdade.
Sentindo falta do costumeiro, voltou ao início.
Afetividade ou medo?
Pleno voava como uma bola de chumbo.
Movia em sua percepção o desconforto do novo.
Sem que ninguém falasse, o entusiasmo continuou o voo sem o pleno.
O que era totalidade, transformou-se em parcialidade.
A responsabilidade do pleno pesou em sua autonomia.
Convenhamos, uma bola de chumbo não pode voar.
Findou-se o belo poético da liberdade.
Um modelo de realidade que fere o orgulho da ilusão.
De onde vem a ideia de liberdade plena?
Prefiro pensar em liberdades parciais.
Quem conseguirá transpor a linguagem natural da vitalidade?
O si dentro da matéria já é improdutivo para o voo, a não ser que a imaginação venha entreter o si em uma esperança sem fundamento.
E se o pleno fosse viável, deixaria de ser bola de chumbo com asas?
Será que a liberdade parcial é um fardo leve, cujas asas mostram realidades paralelas palpáveis, porém, não exploradas?
De parcial em parcial, constroem-se pontes com o possível.
Somente o pleno enfeitiça o tempo (se é que o tempo existe).
Uma montanha russa que roda e volta para o mesmo lugar.
Uma forma de olhar pelo retrovisor, admirando fantasmas em uma estrada feita de sombras.
A liberdade parcial encontra-se em silêncio esperando ser descoberta.
Após encontrar a primeira porta, mundos surgirão.
É a volta da bela poesia?
Nessa altura as asas não carregam mais a bola de chumbo.
Sem perceber, a bola de chumbo ficou em algum ponto do pleno.





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