Garimpando ouro nos escritos

Segundo a escritora e poetisa Cora Coralina: "o saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes." Partindo deste princípio, a pensadora brasileira promoveu uma forma de discernimento entre conhecimento e sabedoria. Ambos possuem suas fontes de aprendizagens. Em relação ao conhecimento, o livro é uma das molas propulsoras da sapiência. Sendo assim, um  livro bem construído e de utilidade intelectual encontra-se em um dos cernes da evolução do conhecimento. Sei que nem todos os escritos possuem como característica o aprofundamento do ser, pois como dizia o poeta Carlos Drummond de Andrade: "há livros escritos para evitar espaços vazios na estante." Por outro lado, existem livros que expressam palavras com significados ímpar, rompendo as barreiras do senso comum, elevando o ser a um patamar de conhecimento e percepção de mundo jamais visto anteriormente pelo leitor, favorecendo a iluminação de ideias que estavam obscurecidas pelas sombras da ignorância. Einstein sabia disso. Durante sua vida, o cientista revolucionário teve contato com os escritos de Isaac Newton, David Hume, entre outros pensadores da ciência e filosofia, permitindo a genialidade fluir em ideias inovadoras. Não é atoa que Einstein disse: "a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original."
O livro é um ambiente a ser explorado pelas ferramentas mentais de aprendizagem, pois garimpar ideias e contextualizá-las no ritmo da história dá trabalho e requer desprendimento de energia cerebral, mas no fim do processo de formação de novos paradigmas, encontramos ouro de raro valor, chama-se conhecimento. O que faremos com esse achado vai depender do caminho que iremos escolher. Não há receita de bolo existencial. Cada indivíduo é um micromundo inserido em um macromundo. Cada processo de formação apimenta as influências sócio-culturais do qual o ser vive, gerando conflitos e acomodações de ideias, construindo novas pontes com a vida. É mais uma maneira de existir além da existência. 
É importante destacar o silêncio como um dos meios de aprendizagem com a leitura, juntamento com uma boa iluminação do local onde vai ocorrer o ato de ler, além disso, evitar ler com sono, pois um livro bem construído não é um sonífero. Tudo é uma questão de hábito. No começo é difícil, mas com a prática o cérebro se acostuma. Com o passar do tempo, procure desafiar-se com livros mais profundos. Gradualmente, respeitado o seu ritmo, você será um leitor voraz. Sua percepção das coisas não será mais a mesma. O senso crítico, que não é ser um cricri chato, irá se desenvolver para manifestar-se em tempo oportuno. Acompanhando o senso crítico, surgirá uma maior autonomia de pensamentos argumentativos e autorresponsabilidade, assumindo mais os sucessos e fracassos ao longo da vida. Lembrando que, ao meu ver, não existe liberdade total, apenas parcial, e que as escolhas também não são totais. Como dizia Karl Marx: "os homens fazem sua própria história, mas não o fazem como querem; não a fazem sob circunstância de sua escolha e sim, sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado." Se você discorda do determinismo de Marx, parabéns! Pois Nietzsche tem outra visão sobre a escolha: "torna-te quem tu és." Muitos atribuem ao pensador o niilismo, mas na verdade Nietzsche acreditava que o ser humano não é um fim em si, pelo contrário, é um caminho para algo maior. Friedrich propõe a construção de novos valores para fugir do determinismo histórico. Uma utopia para uns e modo de vida para outros. Enfim, como eu disse anteriormente, não há receita de bolo existencial. São modelos de realidade. Você escolhe! Diante das possibilidades, pode ser que a leitura não torne o mundo melhor, mas é uma marca de mudança, pelo menos no micromundo. Se for apenas transformações no indivíduo pensante, já vale a pena.
Um outro aspecto importante na leitura é a expansão da imaginação. O próprio Einstein reconheceu o imaginário como algo superior, segundo seu enunciado: "a imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento é limitado. A imaginação circunda o mundo." Para Einstein, enxergar além depende do fator imaginação, permitindo o físico classificá-lo como mais importante que o conhecimento. O livro bem construído alimenta a imaginação para expandir o repertório de percepção de realidade. A leitura provoca a mente a levar o leitor para um lugar distante, a imaginar personagens e eventos. Ao meu ver, conhecimento e imaginação são ferramentas evolutivas que precisam de alimento para dinamizar o ser.
Garimpar ouro nos escritos não é garantia de sucesso material. É mais uma forma de existir além da existência. É uma prática indispensável de alimentar o conhecimento e a imaginação. É navegar em terreno desconhecido. É uma forma de explorar  os micromundo e macromundo, É uma formação continuada de decodificação de símbolos. É um conflito e acomodação de paradigmas. Enfim, é  expressão, que nem sempre vem organizada, proveniente do âmago das ideias. Por estas, e outras razões. que encontrar ouro nos escritos é uma aventura de despertamento para além do senso comum, tornando a caminhada vital personalizada em um sentido tão especial que só você entende o que é, pois os outros és estão acessíveis para aquele, assim como você e eu, que buscam existir além da existência.   

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