Nem tudo é azul e(ou) nem tudo é vermelho

Imagine viver em um mundo discromático de símbolos e significados impostos pela paranoia humana de rotular o que é bom e o que é mau. Parece uma fábula distante, mas não é. O cenário é bem aqui, diante de nossos olhos. O exemplo para esta realidade é a guerra fria (aparentemente teve seu fim na queda do muro de Berlim). Entretanto, a briga ideológica por soberania ainda reside na mente de alguns que projetam a "ascensão do inimigo" baseado em qualquer teoria de conspiração geopolítica que venha viralizar nos veículos de comunicação. Aliás, vale a pena ressaltar que a mídia ajuda diretamente no processo de alimentação da guerra fria na mente de muitas pessoas. Nesta dinâmica simbólica que conecta o bom e o mau, a cor é a associação que nos remete a classificar, até mesmo inconscientemente, o certo e o errado. Geralmente o azul é usado para designar o caminho correto, enquanto o vermelho é estigmatizado como o desvio para o caminho da perdição. Contextualizando com a guerra fria, de um lado os EUA azulado como defensor da democracia, enquanto do outro lado os soviéticos, e seus aliados comunistas, de vermelho, representando o mal encarnado. Pura bobagem ideológica! Pois ambos se completam por interesses geopolíticos de soberania de poder. 
A reprodução da cor como signo de guerra é visto no cotidiano. Exemplos não faltam para caracterizar o confronto ideológico: na escola, a tinta vermelha simboliza baixo rendimento. Já a tinta azul representa bom rendimento. No cinema, os heróis mais impactantes tem o azul como cor marcante (como Capitão América e o Superman). Você pode até questionar que existem heróis impactantes que vestem vermelho, como o homem de ferro. Concordo em parte, mas, geralmente, os personagens vestidos de rubro ou são anti-heróis ou são os vilões. Alguém pode questionar que o Superman e o Capitão América usam vermelho em seus respectivos uniformes. Concordo! Só que o azul é predominante sobre o vermelho. Essa imposição ideológica se estende nos games, influenciando crianças, adolescentes e jovens. Um outro exemplo simbólico é a associação do azul céu com a sabedoria de Deus, enquanto o vermelho é associado a raiva, a fome e a guerra. Enfim, sem que percebamos, reproduzimos rótulos nas cores, atribuindo valores bons e ruins as coisas. 
Sei que a nossa espiritualidade filosófica tem como base dar sentido a existência. Com isso, criamos uma linha tênue entre diversidade e padronização, proporcionando o surgimento de doutrinas ideológicas como verdades absolutas , desrespeitando, em muitas vezes, modelos flexíveis (construídos pela observação e experiências objetivas), subjetividades individuais e fenômenos naturais.
O azul e o vermelho são considerados partes das cores primárias, assim como o amarelo, ou seja, são cores puras que não surgem de outras cores. Porém, o azul, o vermelho e o amarelo, quando misturados, geram outras cores, classificadas como secundárias. Usando os princípios dos conhecimentos cromáticos, vemos, metaforicamente, a originalidade e a diversidade vivendo em uma dinâmica de cores que vão além das nossas vaidades ideológicas. Além disso, as cores estão associadas ao fenômeno da luz. Observamos esta integração quando os espectros visíveis da luz são dissecados no arco-íris. Lembrando que o Sol é a nossa principal fonte de energia primária, ou seja, sem a sua luz solar, a vida não seria possível na Terra. Diante desses fatos, é justo rotular valores ideológicos ao azul e ao vermelho em prol de poder?
O intuito desse texto não é fazer apologia a uma cor específica, mas é levar a reflexões sobre aquilo que reproduzimos em nosso cotidiano. É também expandir os questionamentos sobre outras questões, tais como: ditadura da beleza e distinção pela cor de pele. São temas que precisam de aprofundamento. Por isso, considero o texto como um pontapé inicial para algo maior.
Ainda bem que nem tudo é azul e(ou) nem tudo é vermelho.

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