Apenas uma forma de enxergar Deus

Existem muitas formas de enxergar Deus na fé monoteísta. Pessoas, povos e nações expressam suas respectivas crenças em rezas, orações, expressões artísticas, escritos, entre tantas outras maneiras variadas. O encontro entre essas culturas proporciona um olhar diverso sobre um único Deus. Nesse aspecto, não há certo ou errado, apenas experiências saboreadas ao longo da jornada existencial. É um processo de amadurecimento espiritual que leva o ser a encontrar sentido em sua busca.
Durante a viagem de vida e existência, somos impulsionados ao tempo amargo do fel e ao tempo doce do mel. Distinções que forjam a fé como emblema máximo de base existencial e pós-existência.
De fé em fé, despertamos do sono material das coisas para o além do que já é. Uma espécie de janela com vista para o deslumbramento do subjetivo, onde o concreto é descurtinado em essência, ou seja, Deus, que na minha visão monoteísta cristã, assumindo a forma de EU SOU O QUE SOU, JESUS CRISTO E ALFA E ÔMEGA, está discreto, atuando, principalmente, nos bastidores do espetáculo dos fenômenos naturais.
Pensar e existir centraliza o concreto como real apenas no domínio da inteligência humana. Será? Quando deixamos a nossa casa para ir ao trabalho, sem ninguém para vigiar os móveis, quem me garante que os objetos não observados por nenhum ser humano continuarão no estado de existência? Parece loucura! Mas os móveis não desaparecerão pelo fato de que não há nenhum ser humano observando ou pensando nos objetos em questão. Simplesmente, os móveis continuarão existindo com ou sem a nossa presença, até o momento de consumação pelo caos sobre sua estrutura. Enfim, qual o intuito dessa reflexão? Estimular o senso crítico em relação a confiabilidade na razão, pois sem ela não seríamos o que somos. Porém, a razão cria imagens distorcidas da realidade. Por isso, é importante criticar a racionalidade pura como único meio de resolução para questões complexas. Sendo assim, não podemos descartar a hipótese da presença de Deus no cenário dinâmico de construções e desconstruções de animações e inanimações que pairam sobre o nosso plano existencial. Em outras palavras, Deus está no átomo, na água, na vida, enfim, nas coisas naturais, sendo Ele sobrenatural. 
Escuto a voz de Deus no vento que sopra suave nas folhas das árvores. Vejo Deus agindo nas forças nuclear fraca e forte, eletromagnetismo e gravitacional, tornando possível a interação das mesmas como estrutura básica da existência material. Sinto Deus impactar a minha crença quando no silêncio o Verbo se move como uma energia de revigoração de alma, gerando felicidade em um esplendor de serotonina no material cinzento que pensa. Além disso, contemplo a beleza do Sol inflamado de energia na entropia (desordem) que permeia o Universo. É maravilhoso enxergar a funcionalidade do Perfeito fora da perfeição. O que parece ilógico, ganha sentido no conceito do perfeito no âmbito do propósito. Um efeito dominó de associação entre assimetria (causa) e existência (consequência). Estar dentro do propósito é a perfeição de Deus.
Criamos dogmas e meios burocráticos para espiritualizar o simples, o subjetivo e o transformador. Até que ponto esse ato nos ajuda a dialogar com Deus para compreender o propósito do Divino? Somente os que praticam essas normas e ritos podem responder genuinamente o questionamento lançado. Volto a repetir, não há certo ou errado, são apenas formas de enxergar a mesma fé sob ângulos diferentes.
Deus não está morto! Ignoramos o que não conhecemos, pois temos medo daquilo que não dominamos. Quem explica Deus em Sua Essência mais pura? Aliás, quem explica o que é vida? A ciência pode determinar a existência ou a inexistência de Deus? O que é verdade absoluta? Muito mais questões do que afirmações. Uma fé de senso crítico inabalável. Contradições que vão de encontro com as letras frias dos manuscritos sagrados. Ainda bem que existe o Espírito Vivificante, pois sem Ele haveria apenas marcas alienantes de potência sem funcionalidade.
O barco do ser, que se faz presente na matéria que me compõe, está navegando sem garantias. Um salto de fé no oceano das impossibilidades da lógica humana. Loucura manifestada no fluxo às avessas da coerência racional. Fé e razão divergem de fatos, mas convergem nas questões paralelas construtivas. São complementos que desafiam a percepção de realidades alternativas a deriva, esperando serem encontradas ao longo da odisseia sem fim.
Como toda história de relacionamento profundo, não pode faltar amor. O traço forte para tal comportamento está na capacidade de expressar beleza e, ao mesmo, resiliência naquilo em que raramente se vive face a face. Por causa desse gesto sem igual, Deus é definido como amor. É o melhor conceito para compreender o que se busca como sentido espiritual. Um Deus que ama sem esperar reciprocidade de seu amado (ser humano). Isso vai muito além de nossa evolução. Acaso, o fluxo natural, sem o sobrenatural, pode se sustentar sem o sublime amor ágape? 
Vários pensamentos rondam a minha mente, mas preciso fechar o texto. Espero uma luz clarear as minhas ideias com um encerramento digno. Como essa luz chegará se já é noite? Esperar o óbvio é retornar a mesmice da mortalidade. Porém, sendo dia ou noite, não importa. O imprevisível é a sabedoria que vem do Alto, tornando possível o oculto de hoje se tornar o revelado de amanhã. E se o futuro for agora, despertarás do sono da ilusão? Até onde me levará a fé que critica a certeza da razão? No final de tudo, vejo que só é uma forma de enxergar Deus.

   
       

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